quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Cine Climax: Natal Negro

por
Corto de Malta

Imagine uma fraternidade feminina onde vivem, entre outras, a Julieta e a Lois Lane. Então imagine um assassino psicopata misterioso que dá estranhos telefonemas. E imagine que é Natal. Pronto, assim nascia uma das mais populares variantes do Cinema de Horror: o Slasher.


Vem chegando a época do Natal e algumas garotas de uma fraternidade como Jess (Olivia Hussey, seis anos depois do Romeu e Julieta de Franco Zefirelli)Phyllis (Andrea Martin) e Barb (Margot Kidder, quatro anos antes do Superman de Richard Donner) estão estão se atormentadas por estranhas ligações obscenas. A princípio tudo parece só um trote, mas quando uma das meninas da fraternidade e uma garotinha das redondezas desaparecem, o Tenente Fuller (John Saxon)começa a investigar o caso.

Assista o filme:








SPOILERS



Bob Clark pode ter terminado a carreira fazendo uns filmes bem merdas envolvendo bebês falantes e tudo mais, mas assistindo Natal Negro (Black Christmas) ou Noite do Terror como ficou conhecido ao ser lançado no Brasil, dá pra notar que o cara tem talento. Ele constrói uma atmosfera de suspense muito interessante que prende o público durante toda a história.
Os closes no telefone são inquietantes, assim como as tramas paralelas que vão se seguindo envolvendo o conflito entre Jess e Peter, a busca por Clare, as trapalhadas do Sargento Rush etc., enquanto o assassino permanece onipresente o tempo todo. Por exemplo, todo aquele trabalhão que se tinha pra rastrear uma ligação na década de 70 é usado de maneira inteligente como ferramenta narrativa pra manter o clima de mistério.

O longa metragem foi parcialmente inspirado em uma série de assassinatos que realmente ocorreram no Canadá e na lenda urbana da babá que recebe telefonemas de um psicopata, que logo depois inspiraria também Halloween do John Carpenter. Como já falei no Locadora do Falecido sobre Halloween, a maioria das pessoas considera Natal Negro o pioneiro dos Slasher Films.
Basicamente ele pega tudo que já se fazia no Giallo italiano (inclusive a forma de filmar o assassino utilizando um recurso chamado câmera subjetiva, pra dar pro publico a mesma visão do psicopata) leva pro Canadá, põe atores pra falarem em inglês e concentra a ação no meio de uma data festiva, nesse caso o Natal. O que por sinal sempre rendeu tanto uma ironia interessante pra trama, quanto polêmica no mundo real pelo uso de uma celebração de amor e paz como pano de fundo pra uma história de horror e morte.

Pra mim o único elo fraco de Natal Negro é o final. Quando o filme foi lançado nos cinemas dos EUA em 1975 (um ano após estrear no Canadá) os produtores sugeriram a Bob Clark que modificasse o final criando uma sequência aonde Cris, o namorado de Clare, chamasse Jess de Agnes e a matasse revelando ser Billy. Mas Clark insistiu em manter o caráter ambíguo da última cena. Ainda assim o filme é muito bom, mas carece muito de explicações sobre muita coisa no desfecho e isso chega a incomodar. Se não fosse por isso seria excelente.
Em 2006 Katie Cassidy e Mary Elizabeth-Winstead estrelaram um remake, aonde Andrea Martin retornava ao elencodessa vez no papel da governanta, que no original era vivida por Marian Waldman. Curiosamente, essa versão foi bastante criticada justamente por querer explicar demais já que existe todo um prólogo bizarro explicando quem são Billy e Agnes e o final não deixa espaço pra nenhuma dúvida, além de ser muito mais violento e gore.

Curiosidade: no remake o Billy sofre de uma doença no fígado que faz sua pele ficar amarela. Amarelo é Giallo em italiano e o Dario Argento mostrou um assassino que sofria da mesma enfermidade quando homenageou o gênero que o consagrou ao filmar Giallo – Reféns do Medo, com o Adrien Brody em 2009.

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