domingo, 19 de outubro de 2014

Climatinê: O Outro Lado do Paraíso

por
Corto de Malta


Evilah. Uma visão única de um dos momentos mais importantes da história do Brasil.
Assistido no Festival do Rio 2014.


Nando (David Galdeano) ama e admira seu pai, Antônio (Eduardo Moscovis), um sonhador. Após várias tentativas frustradas de dar uma nova vida para a família, Antônio acredita que descobriu um lugar mágico na Terra que seria a Evilah (ou Havillá), paraíso bíblico que ele vive narrando para os filhos.



Tal lugar seria Brasília, ainda em fase de construção após o governo Juscelino Kubitschek. O ano é 1964 e Antônio como milhões de brasileiros nutre esperanças nas promessas de reformas de base do Presidente João Goulart. Ele parte com a família deixando o interior de Minas Gerais e resultando numa profunda transformação na vida de Nando.



Um novo universo se descortina para o garoto e sua família, mas o golpe militar faz o sonho do dia para a noite se transformar em pesadelo.


Talvez ainda não tenha havido um filme que mostrasse o Golpe de 1964 sob um ponto de vista tão singular quanto o de uma criança que estava presente ali no calor dos acontecimentos de ebulição política do país. Baseado no sensível livro juvenil de Luiz Fernando Emediato (que por sua vez se inspirou em sua experiência real) e reforçando os tons políticos em combinação com o lirismo da trama original, o diretor André Ristum produziu uma obra forte e comovente.



Ainda que siga alguns clichês formais dos filmes que mostram a passagem da infância para a adolescência, O Outro Lado do Paraíso é extremamente bem executado para o que se propõe. A reconstituição de época é impecável. A cena do "televizinho" é perfeita.



E a trilha sonora, atuações, direção e fotografia conseguem um tom harmonioso e entregam um longa metragem belíssimo. Destaque para a exibição das gravações originais que o cineasta Jean Mazon fez de Brasília e Rio de Janeiro durante a época do golpe e que permaneceram inéditas por cinquenta anos. 


Além de tecnicamente impecável, O Outro Lado do Paraíso comove o espectador com a simplicidade com que nos mostra aquela família de sonhadores. Seja Nando imerso nos livros, Antônio se envolvendo nas reuniões sindicais, ou o povo pobre de Taguatinga, cidade satélite de Brasília, na esperança de uma prosperidade que lhes seria roubada, o que vemos ali é um cativante retrato da alma do Brasil e dos brasileiros, num ponto culminante de sua História, marcado com lágrimas e sangue.



Como diz a legenda que Nando colocou em uma das estantes da biblioteca que seu pai e seus amigos ajudaram a construir, o filme é direcionado para todos aqueles que procuram Evilah.



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