sábado, 20 de setembro de 2014

Climatinê: Os Cavaleiros do Zodíaco - A Lenda do Santuário

por
Corto de Malta

Longa metragem em computação gráfica reapresenta os Cavaleiros de Athena sem o estilo Nekketsu, tão marcante na narrativa desde o mangá original.



Quando A Lenda do Santuário estava prestes a estrear no Japão o criador de Cavaleiros do Zodíaco enviou um recado especial para o público. Veja aqui. Na mensagem de Masami Kurumada ele diz que apesar de seguir os princípios do estilo Nekketsu, seu mangá sempre foi Shonen, ou seja, sempre foi direcionado para garotos do sexo masculino.

O estilo Nekketsu ("Sangue Quente" em japonês) foi elaborado pelo roteirista Ikki Kajiwara em seus mangás de esporte como Star of Giants e principalmente Ashita no Joe. Kajiwara sacudiu o mundo dos mangás nas décadas de 1960 e 1970, acostumado ao universo lúdico de Osamu Tezuka. Ele apresentava personagens temperamentais, fortes e histórias violentas e dramáticas.

Todos os grande sucessos dos mangás Shonen seguem uma espécie de programação prévia dos mangás de Kajiwara. É por isso que Os Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball, Yu Yu Hakushô etc. tem torneios, por exemplo, mesmo que as vezes não pareça fazer sentido no contexto das tramas. Porque quase todos os mangás de Kajiwara eram sobre algum tipo de esporte.



Saint Seiya herdou muito do "sangue nos olhos" do Nekketsu, embora Kurumada procurasse aplicar outros aspectos narrativos pra atrair um público mais feminino. Daí a razão de tantos personagens andróginos, que vez ou outra incomodavam o desavisado fã mais homofóbico. Apesar disso, até hoje jamais havíamos visto os Defensores de Athena se afastarem tanto do Nekketsu quanto em A Lenda do Santuário.

Na história a deusa Athena reencarna na Terra no seu Santuário para lutar contra as forças do mal e é protegida por Cavaleiros que usam o poder oculto em seus espíritos conhecido como Cosmo e armaduras baseadas nas constelações para protegê-la, Desta vez, porém, Ahtena ainda bebê é vítima de uma traição e salva pelo Cavaleiro de Ouro Aiolos de Sagitário.

O moribundo guerreiro entrega a criança ao milionário japonês Mitsumasa Kido, que a batiza como Saori e a cria como sua neta, ao mesmo tempo em que prepara jovens órfãos para se tornarem Cavaleiros de Bronze e protegê-la. No aniversário de 16 anos de Saori ela é atacada por soldados do Santuário que acreditam que seja uma impostora e é salva pelos Cavaleiros Seiya de Pegasus, Shiryu de Dragão, Hyoga de Cisne e Shun de Andrômeda. Mais tarde a eles se juntará o irmão de Shun, Ikki de Fênix e unidos deverão atravessar as 12 Casas do Zodíaco no Santuário para enfrentar o Grande Mestre e salvarem Saori.



Como pode-se notar a trama busca recontar toda a primeira fase do anime/mangá de Kurumada, incluindo a famosa Saga das 12 Casas num filme de cerca de uma hora e meia. A questão é: é possível fazer isso e manter a qualidade? Resposta: não. Além de apresentar um universo bastante complexo de forma superficial, omitindo diversos elementos e eventos o longa metragem torna-se extremamente corrido no terço final, tornando tudo confuso. Tão confuso que parece que até quem executou a animação se confundiu, pois existe um erro grotesco de continuidade. Quando os Cavaleiros são arremessados na Casa de Sagitário a legenda a chama de Casa de Capricórnio, provavelmente porque o primeiro personagem a aparecer ali é o Shura de Capricórnio.

No entanto, não se pode negar as qualidades de A Lenda do Santuário. A animação é a mais avançada possível, o visual das armaduras e do Santuário (que agora é uma espécie de cidade nas nuvens) são todos de primeira linha e muito detalhistas. Algumas modificações também são bem vindas, como Saori e os Cavaleiros serem mais velhos do que no mangá original. Infelizmente muitas outras mudanças atingem em cheio o público antigo de forma negativa.

E não estou falando do Tatsumi ter cabelo ou da troca de sexo de Milo Escorpião e sim do fato de Shun, Ikki, Mu de Áries e Afrodite de Peixes não fazerem a menor diferença se não estivessem lá. Ou do fato de Máscara da Morte de Câncer ter se tornado um bobo da corte e Saga de Gêmeos virar uma espécie de monstro de tokusatsu! Ou mesmo que toda a temática e cultura  grega tenha sido substituída por estranhas alegorias e adereços egípcios! Mas por um lado dá pra entender que são coisas feitas pra tentar capturar uma nova geração de fãs.



Só que por outro lado se eu fosse um desses novos fãs teria saído do Cinema me perguntando quem ou o que diabos era o Mestre do Santuário antes do Saga tomar o posto, por que o Cavaleiro de Libra não estava na sua casa, por que Ikki é tão arredio, por que a armadura de Pegasus "rejeita" Seiya quando ele alcança o Sétimo Sentido, mas o mesmo não acontece com a armadura de Cisne quando Hyoga vence Camus de Aquário. Até mesmo a piada recorrente com Shiryu só faz sentido com quem assistiu a série clássica.

Porém, mesmo sem conseguir agradar completamente a ninguém, é inegável que o filme consegue contar uma história com começo, meio e fim. É quase como se A Lenda do Santuário fosse pra Os Cavaleiros do Zodíaco o que A Ameaça Fantasma é pra Star Wars. Ainda que aos trancos e barrancos, essa visão mais infantil pode mesmo agradar a garotada de hoje com seus efeitos de computação gráfica de última geração. 

Se pensarmos que o longa metragem narra mais a jornada de Saori para se tornar Athena do que dos Cavaleiros propriamente, o filme ganha mais sentido, pois ela é talvez a única personagem bem desenvolvida no roteiro. Só é uma pena que no meio deste caminho o diretor Keiichi Sato tenha aberto mão do estilo que consagrou Saint Seiya, e que ainda hoje é tão caro para os fãs de mangá e anime no mundo.

2 comentários:

Unknown disse...

Ou seja: ter que adaptar um clássico (não pra mim) é sempre uma merda.

TODDY disse...

ótima resenha, mas o que mais incomodou mesmo foi a fraca participação do Ikki, isso nao pode!!!!!!!!!!!!!!!!!

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