sexta-feira, 16 de maio de 2014

Climatinê: O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro

por
Corto de Malta

Nós que nos amávamos tanto.

SPOILERS ABAIXO
Peter Parker (Andrew Garfield) continua sua vida como Homem-Aranha, mas não consegue cumprir a promessa de se afastar de Gwen Stacy (Emma Stone) feita ao pai dela antes dele morrer. Enquanto isso, na Oscorp as experiências que o pai do herói, Richard Parker (Campbel Scott), e Norman Osborn (Chris Cooper) fizeram no passado tem repercussões graves no presente de pessoas como o solitário Max Dillon (Jamie Foxx), que se transforma no vilão Electro, e no atormentado Harry Osborn (Dane DeHaan), filho de Norman e melhor amigo de Peter.


Mantenho o que disse com relação ao filme anterior. Num comparativo com os filmes de Sam Raimi, a versão de Marc Webb tem coisas melhores e coisas piores. Mas ambos fizeram bons filmes. Apenas ficaram aquém do que poderiam ter sido, vide o material literalmente espetacular de onde surgiram, as histórias em quadrinhos do Homem-Aranha do tempo em que Stan Lee e seus parceiros inspiradíssimos eram os responsáveis pela revista.

Claro que esse é o lado fã falando. Até porque, com altos e baixos, os filmes funcionam (exceto talvez pelo Homem-Aranha 3 do Raimi) e os quadrinhos... bom, eles sempre estarão lá. Diferente da efemeridade da existência nossos lembranças são imortais. O que nos leva ao início de O Espetacular Homem-Aranha 2 (com o péssimo subtítulo inventado no Brasil de A Ameaça de Electro), com o discurso de Gwen Stacy na formatura, discurso esse repetido no final do longa metragem assim como a mensagem do Tio Ben (Martin Sheen, que dessa vez ficou de fora) no celular no Espetacular Homem-Aranha 1.


Vamos falar dos pontos negativos primeiro. O Electro do Jamie Foxx não chega a ser ruim, mas também não é bom. Pra começar os poderes dele nunca são bem definidos. Tem uma cena no Instituto Ravencroft em que ele me lembrou o Dr. Manhattan. E, em tese, o próprio filme não o coloca como alguém tão poderoso assim. Sua personalidade também cede ao clichê, embora Foxx se esforce pra dar credibilidade ao papel.

Ainda assim o personagem rende bons momentos e boas cenas de luta contra o Aracnídeo. Mas fica a sensação que ele não precisava estar lá a não ser por exigência dos produtores para mostrarem os poderes de um novo vilão que ainda não tinha aparecido nas telonas


Outro problema foi o que fizeram com a Família Osborn. Aí não só mue lado fã de HQ fala mais alto, mas também meu bom senso. Harry Osborn foi testado como Duende Verde durante mais de vinte anos em histórias do tempo em que Norman fora dado como morto. Nunca teve o mesmo impacto do pai. Nunca. Tanto que após o retorno de Norman os confrontos entre o Aranha e o Duende voltaram a ganhar contornos impactantes como há muito não se via.

Mas no Cinema insistem naquela análise superficial - que já existia na franquia antiga, mas nessa foi pior - de que por causa da idade Harry deveria ser o antagonista de Peter e não Norman. Isto é um erro. Ponto. Primeiro que Harry não é um psicopata e colocar ele fazendo o que fez no fim me parece uma traição a essência do personagem que no fundo sempre foi uma boa pessoa... e se contar com a cena perto do final a coisa ainda deve piorar com ele virando o provável líder do Sexteto Sinistro.


Sabendo que o Norman estava ali a disposição e que eles não o usaram corretamente por pura prepotência torna tudo mais irritante. A relação entre ele e o protagonista não é uma coisa simples de se entender, mas ele é definitivamente o vilão que os fãs amam odiar porque é o arquiinimigo do herói. Norman tem uma essência tão diametralmente oposta a tudo que o Peter representa que isso o torna alguém tão importante para a essência do próprio Homem-Aranha de uma maneira que Venon, Dr. Octopus, Kraven e nenhum outro vilão jamais conseguiu ser. E olha que Dane DeHaan atua muito bem, mas nem isso tira a sensação de que o verdadeiro vilão morre depois de 15 minutos de projeção levando boa parte da graça da história com ele...

Com isso tudo só quero expressar o quanto é ruim pra um fã do Aranha ver um filme onde o Peter Parker nunca encontra o Norman Osborn...


E não é implicância com o longa metragem de Webb porque é o mesmo sentimento que tive quando vi a Mary Jane "usurpando" o lugar da Gwen no primeiro Homem-Aranha do Raimi. No fim a Sony conseguiu a proeza de adaptar duas vezes a mais famosa história do personagem, o célebre confronto na ponte na HQ entre o Homem-Aranha e o Duende Verde em que Gwen Stacy morre. Primeiro sem a Gwen Stacy e depois sem o Duende Verde. Brevemente veremos uma versão sem o Homem-Aranha do jeito que a Sony é um estúdio louco.

Mas isso tudo torna o filme ruim ou uma má adaptação? Não. Como citei existem pontos positivos que não apenas salvam a adaptação como a tornam de fato um bom filme. A forma como Denis Leary, o ator que interpreta o falecido Capitão Stacy, é utilizado em cena é uma sacada genial de tão simples e eficiente que é. O espectador realmente se coloca no lugar do Peter nesses momentos, que por sua vez também lembram demais os quadrinhos do personagem.



Por sinal, Andrew Garfield dá outro show interpretando Peter Parker, conferindo emoção e credibilidade nas cenas com Gwen, Harry, Tia May e quando enfim descobre a verdade sobre o pai, Richard Parker. São justamente os fãs de HQs que que mais tiveram reservas a essa subtrama dos pais dele e no fim ela fica bem encaixada na trama, muito por causa da interpretação sincera de Garfield.

Ao mesmo o Homem-Aranha aqui É o Homem-Aranha. Essa talvez seja a primeira vez em cinco filmes que o apelido Amigão da Vizinhança faça realmente sentido. A personalidade sarcástica e abusada do Peter com a máscara nunca foi tão presente. Também são interessantes as pontas de personagens como Rhino (em ponta de luxo de Paul Giamatti), Felicia (a Gata Negra nas HQs e, de certa, forma até o J. Jonah Jameson. Todos devem estar em O Espetacular Homem-Aranha 3.


Outra excelente em cena como sempre é Emma Stone. Assim como na HQ a presença de Gwen Stacy é como um dia ensolarado na vida sempre nublada de Peter Parker. E a química (que extrapolou a ficção no longa metragem anterior e foi pro mundo real) entre o casal em cena não só é o que de melhor O Espetacular Homem-Aranha 2 tem a oferecer. É também o que dá significado a tudo.

Toda a continuidade do impasse criado entre os dois no longa metragem anterior é muito bem explorada. E, se você párar e rever o filme novo com calma desde o começo vai entender que, no fundo no fundo, a história é sobre o Peter e a Gwen e não sobre a conspiração da Oscorp, o Homem-Aranha enfrentando os vilões etc. E acredite, isso funciona.


Outra sacada genial foi transferir o combate final para uma torre de relógio que, na minha opinião, conseguiu superar visualmente até mesmo o visual elaborado por Gil Kane em 1973 e que se tornou icônico. Além disso, casa muito bem com o primeiro momento de Peter no longa metragem. Como falei, conseguiram dar um sentido a tudo no fim das contas.

É difícil botar em palavras o que representa para um fã do personagem o amor entre Peter Parker e Gwen Stacy. O filme honrou isso muito bem, transportando para o Cinema não somente os atos em si... mas especialmente aquela sensação tão marcante transmitida nas HQs... das coisas e pessoas que amamos indo embora...

3 comentários:

Renver disse...

"É difícil botar em palavras o que representa para um fã do personagem o amor entre Peter Parker e Gwen Stacy. O filme honrou isso muito bem, transportando para o Cinema não somente os atos em si... mas especialmente aquela sensação tão marcante transmitida nas HQs... das coisas e pessoas que amamos indo embora..."

Disse tudo irmão!!!

Unknown disse...

""É difícil botar em palavras o que representa para um fã do personagem o amor entre Peter Parker e Gwen Stacy. O filme honrou isso muito bem, transportando para o Cinema não somente os atos em si... mas especialmente aquela sensação tão marcante transmitida nas HQs... das coisas e pessoas que amamos indo embora..."

Eu falei pra vc ver o filme antes de ficar com o mimimi que estava XD

Anônimo disse...

Sou muito fã de quadrinho. E já li quase todas as melhores histórias do Aranha, como "A morte de Gwen Stacy". Assisto filmes de super-heróis, mas nada substitui a nona arte. E acho até perigoso adaptar um personagem de quadrinho, que não deixa de ser na sua essência um mito da fábula moderna. Quando é transportado para as telonas, corre o risco de cair ao ridículo. E quando levado muito a sério perde seu caráter de fantasia. Estou meio cansado desta onda de super-heróis no cinema. Esta nova trilogia, como filme de aventura, é ruim. O ator central não tem carisma e nem talento. O roteiro é confuso e inconsistente. Os antagonistas chegam a ser irritantes. Ruim. Ponto-final.

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