sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Baú do Tesouro: Robocop - O Policial do Futuro por Corto

por
Corto de Malta

Aproveitando que hoje chega aos cinemas brasileiros o Robocop do José Padilha, vamos recordar o clássico oitentista do diretor holandês Paul Verhoeven.

 
Em um futuro distópico a cidade de Detroit é assolada por uma incontrolável onda de criminalidade, além das baixas condições de vida de seus moradores. A mega-corporação OCP, que passa a ser responsável pela departamento de polícia, planeja um grande projeto de reurbanização destruindo a Velha Detroit e substituindo-a por uma utópica Delta City.

Para combater o crime local a OCP projeta a construção de unidades robóticas. Como todos os testes com o famigerado ED 209 acabam em tragédia um dos executivos, Bob Morton (Miguel Ferrer), consegue autorização para a criação do Projeto Robocop que visava a construção de um ciborgue, meio homem meio máquina, para ser o policial perfeito.


Quando o veterano oficial da polícia Alex Murphy (Peter Weller) é emboscado e barbaramente mutilado por uma violenta quadrilha, liderada por Clarence Boddicker (Kurtwood Smith – o vilão preferido do Hell nos anos 80) torna-se a cobaia necessária para a OCP reconstrui-lo como Robocop.

Oficialmente dado como morto para seus parentes e amigos, Murphy converte-se então na máquina perfeita de combate ao crime. Porém, pouco a pouco as memórias de sua vida passada retornam com ajuda de sua antiga parceira Lewis (Nancy Allen), trazendo o mais básico dos conflitos humanos a tona: vingança. Indo contra sua programação robótica, Robocop decide partir atrás da gangue que destruiu sua vida e descobre a ligação dos bandidos com um outro executivo da OCP, o inescrupuloso Dick Jones (Ronny Cox).

 




CURIOSIDADES SOBRE OS BASTIDORES DO ROBOCOP E SUAS INSPIRAÇÕES


Paul Verhoeven vinha do sucesso de Conquista Sangrenta – seu primeiro trabalho em Hollywood – mas foi Robocop quem catapultou sua carreira de cineasta possibilitando que o diretor fizesse em sequência dois grandes sucessos nos anos seguintes, O Vingador do Futuro e Instinto Selvagem, só pra depois seguir ladeira abaixo com Showgirls. Inicialmente ele não gostou do que leu no roteiro, mas sua esposa também leu e, convencida de que a trama podia ter substância, o convenceu a trabalhar no longa metragem.

 Robocop – O Policial do Futuro é um retrato do estilo cru e impactante de Verhoeven, que não tinha o menor pudor em usar a violência pra chocar o público mas, diferente de muito do que se vê hoje em dia, jamais apelou pra isso de forma gratuita, pelo menos não no caso de Robocop. Toda a sociedade consumista, corrupta e violenta, repleta de modismos midiáticos e regida pelo capitalismo selvagem é cinicamente representada com bastante fôlego nessa fábula de um futuro cada vez vez menos distante da nossa realidade.


Vários temas abordados no filme permanecem atuais, como a violência urbana, a privatização dos serviços públicos, a desumanização das grandes corporações, o poder da imprensa. Diria até que Robocop é um dos filmes mais sintomáticos sobre o mundo globalizado que surgiria a partir do fim do século XX. Além de também abordar um conceito atemporal através da dor de Murphy: o conflito entre homem e máquina.

Rutger Hauer e Arnold Schwarzenegger foram cogitados para o papel do protagonista que acabou ficando com Peter Weller – dizem que o Rutger Hauer já tava de saco cheio de trabalhar com o Verhoeven. Weller conseguia não só transmitir a dor interior do personagem como também se mover com agilidade usando o pesado traje do Policial do Futuro, criado por Rob Bottin, conhecido pelos efeitos especiais dos filmes de John Carpenter. Mesmo assim o ator precisou de um treinamento adicional pra se acostumar e poder se mover conforme o previsto.


Uma curiosidade interessante é que a famosa cena em que o vilão Emil (Paul MacCrane) toma um banho num tonel de lixo tóxico foi uma homenagem explícita de Bottin ao trabalho do famoso maquiador Rick Baker no clássico trash O Incrível Homem que Derreteu.

O visual do Robocop foi parcialmente inspirado em dois heróis dos quadrinhos que faziam sucesso nos anos 80, o Juiz Dredd e o ROM. Inclusive é possível ver os quadrinhos do ROM em dois momentos distintos do longa metragem: durante o roubo de uma loja e no chão ao lado do filho do Murphy, quando o policial se lembra de sua vida passada.


Bottin, Verhoeven e o roteirista Edward Newmeier também se inspiraram em dois heróis japoneses famosos na época: o personagem título do anime O Oitavo Homem – que veja só, era a história de um detetive da polícia transformado em andróide - e o Policial do Espaço Gaban, o primeiro Tokusatsu do gênero Metal Hero produzido pela Toei.

Impossível não lembrar que a própria Toei anos depois se inspirou no Robocop pra criar outra série Metal Hero bastante conhecida no Brasil: Jiban – O Policial de Aço.


Como o mundo dá voltas, não?






Lançado em 1987, o filme Robocop - O Polical do Futuro fez bastante sucesso sendo considerado pela crítica uma das melhores produções exibidas nos cinemas daquele ano e gerando toda uma franquia que tornou o Robocop famoso, aparecendo em duas sequências cinematográficas, histórias em quadrinhos e desenho animado.

Porém, o filme original foi ao mesmo tempo também foi considerado por alguns como um longa metragem fascista, o que não deixa de ser uma outra ironia já que tanto Verhoeven quanto Neumeier costumam declarar abertamente que são politicamente de esquerda.


Neumeier disse que procurou retratar o desemprego e a pobreza nos noticiários do telejornal do filme como alusão a crise da indústria norte-americana do fim dos anos 70/ meados dos anos 80.

Originalmente a produção teve uma classificação etária muito pesada nos EUA. Devido a isso Verhoeven fez pequenos cortes nas cenas de maior violência e acrescentou os comerciais de TV humorísticos pra aliviar o clima barra pesada da trama, diminuindo assim a censura do filme.


Até hoje há quem aponte Robocop como uma cópia do Oitavo Homem cujo primeiro mangá de autoria de Kasumasa Hirai data de 1963, mas a verdade é que O Policial do Futuro conquistou seu próprio espaço na cultura pop. Se isso se perpetuará com as novas gerações através do remake só o tempo dirá.

E se for pra pensar a sério sobre quem começou a copiar quem, O Oitavo Homem também teria que ser considerado plágio… do Frankenstein!

5 comentários:

Unknown disse...

Corto, acho bacana teus posts, mas essa tua mania de sempre colocar Tokusatsu, animes e mangás é um porre. e estou bastante esperançoso nesse filme.

Luiz Carlos Produções disse...

Ué, mas já acabou o post? Eu gostei, mas esperava uma finalização melhor.

Corto de Malta disse...

Fernando, se os caras falaram que se inspiraram em tokusatsu e anime você queria que eu fizesse o quê? Quem eu mentisse ou omitisse a informação?

Não vejo como isso seria relevante pra proposta do texto.

Corto de Malta disse...

Luiz Carlos, minha intenção foi terminar propondo uma reflexão. Partindo do Monstro de Frankenstein como ponto zero da ideia de que a vida pode vir da morte.

Então o Robocop não copiou O Oitavo Homem (mesmo que tenha copiado), mas ambos trabalharam o mesmo conceito inspirados pelo livro de Mary Shelley, assim como as demais obras que se seguiram. Nas três histórias um novo corpo construído por um cientista "Deus" nasce de um cadáver

Por outro ponto de vista, a história de Frankenstein se encaixa no anseio moderno de criar vida artificialmente através da ciência. Se o Dr. Frankenstein fosse criado hoje ele provavelmente trabalharia com robôs e máquinas também.

Dilberto L. Rosa disse...

Perfeito, meu caro: a cultura pop é mesmo uma colcha de retalhos de velhas influências e Robocop é inovador em inúmeros aspectos,sendo até uma "heresia" diminuí-lo com picuinhas como esta... Falando no policial-robô, falo dele e do universo de refilmagens atual! Abração e apareça!

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