quinta-feira, 18 de julho de 2013

Top Max: 14,5 Melhores Tokusatsus Exibidos no Brasil - O Fantástico Jaspion

por
Corto de Malta


Se existe uma série de TV que vem à mente do público brasileiro quando se fala em herói japonês essa série com certeza é...


6 - O Fantástico Jaspion


Gênero: Metal Hero
Ano de Produção: 1985 a 1986


A série conta história de Jaspion, um extraterrestre órfão criado pelo místico Edin num planeta distante e destinado a encontrar o misterioso Pássaro Dourado, única forma de deter o gigantesco Satan Goss (o autêntico!) que quer governar o universo estabelecendo o Império dos Monstros, os quais o vilão tem o poder de enfurecer (como o narrador sempre lembrava) transformando-os em feras assassinas. Após algumas aventuras pelo espaço e outros planetas na nave-robô Daileon, Jaspion e suas companheiras, a andróide Anri e a monstrinha de estimação Mya, chegam a Terra e aqui  o herói encontra seu arquiinimigo: Macgaren, o filho de Satan Goss. 


Jaspion foi a série metal hero que sucedeu a Trilogia dos Detetives Espaciais e é um daqueles fenômenos difíceis de explicar: foi considerado uma série comum no Japão - se é um exagero dizer que foi considerada um fracasso, também passou muito longe de se tornar um grande hit como Os Detetives Espaciais - sendo completamente esquecido depois por lá... mas fez um imenso sucesso no Brasil, onde se tornou se tornou ícone da cultura pop e virou sinônimo de herói japonês. O mais bizarro é que tais fatos surpreendem tanto os japoneses quanto os brasileiros.


Talvez o mais perto de uma explicação plausível seja que Jaspion representa para os brasileiros o mesmo que Gyaban para os japoneses: o primeiro metal hero, a série onde um herói (quase) solitário veste uma armadura estilosa e pilota uma nave que vira robô, além de fazer uso de todo tipo de equipamento a lá Star Wars.


Numa revisão após tanto tempo e contextualizando a época em que foi feita concluímos que Jaspion é melhor do que Gyaban (basicamente por ter efeitos mais desenvolvidos e um tom menos infantil nos episódios) mas ainda assim não é o máximo do máximo que eu e tantos outros pensávamos quando éramos crianças. Assim como Changeman, Jaspion envelheceu mal em alguns aspectos. A história principalmente.


O seriado pode ser facilmente dividido em cinco fases diferentes. Nos três primeiros capítulos (pra mim os piores) só vemos o herói vagando pelo espaço em planetas desconhecidos onde Satan Goss sempre dá um jeitinho de aparecer e causar encrenca, embora NUNCA se explique como o vilão voa através do espaço sideral. Tirando a primeira aparição do monstro Namaguederaz no episódio 3 nada ali é relevante e tudo parece uma grande encheção de linguiça.


 Talvez devido a baixa repercussão no Japão dos anos 80, logo acontece uma grande reviravolta e no episódio 4 Jaspion vem a Terra em busca da Bíblia Galáctica, que contaria o segredo de como se livrarem de Satan Goss. É quando surge um homem misterioso que logo ficamos sabendo que é Macgaren, o qual usa uma armadura semelhante ao Jaspion, mas quase toda preta. Também aparece o Boomerman, um agente da Interpol especialista em bumerangues (!) e rival de Macgaren, que matou seu irmão. Mesmo assim muitos dos episódios parece que não se encaminham pra lugar nenhum. 


Existe o boato de que por Hikaru Kurosaki, ator que vivia Jaspion, estar ocupado numa peça de teatro, seu colega Hiroshi Watari (ator do Boomerman e que já era um nome consolidado no gênero) iria pouco a pouco a substituí-lo como o herói principal (semelhante ao que houve na transição das séries Gyaban e Sharivan), mas Hiroshi Watari se machucou e teve que se afastar da produção definitivamente.


Inclusive, acho que na sua última aparição ele aparece mancando, enquanto que o Jaspion só aparece transformado o tempo todo, ou seja, era só um dos três dublês de Hikaru Kurosaki ali, pois ele nunca vestiu a fantasia da armadura Metaltex, não porque o não fosse capaz, já que Kurosai também era dublê profissional e membro do JAC (Japan Action Club), mas porque não havia tempo pra ele gravar as cenas com a fantasia de Jaspion.


E a trama só decola pra valer lááá no episódio 15 quando Jaspion e Macagaren conhecem o Professor Nambara, único que já avistou o misterioso Pássaro Dourado e finalmente o protagonista descobre que só quem pode vencer Satan Goss seria o Pássaro, embora os produtores claramente ainda não soubessem como ele faria isso. O que eu acho curioso é como a partir daí a Bíblia Galáctica que até então parecia tão mais importante, é ofuscada pela importância do Pássaro na saga.


Tudo começa então a girar em torno da busca de todos os personagens pelo Pássaro Dourado, enquanto Macgaren recruta cada vez mais mercenários galácticos pra derrotar seu oponente, o qual odeia cada vez mais. Um deles, o andróide “exterminador do futuro” Zampa, revela-se um velho conhecido dos pais do herói e os dois tem uma luta incrível.


Nesse capítulo ocorre também o momento mais humano do protagonista, ao se reencontrar com os espíritos de seus pais. No episódio 29, após um duelo com Jaspion, Macgaren morre, mas como não dava pra ficar sem ele, o vilão é ressuscitado pela Bruxa Kilza.



Já no episódio 35 nova mudança de rumo do seriado. Agora o Pássaro Dourado irradiou 5 crianças (entre elas a filha do Prof. Nambara pra economizar elenco) e agora todos passam a correr atrás das tais crianças, deixando o coitado do Pássaro em paz. E aja Deus ex Machina pra série seguir adiante.
Já Kilza, uma das maiores vilãs dos tokusatsus - "Berebekan Katabamba, Berebekan Katabamba" -, infelizmente encontra seu fim precoce, sendo prontamente substituída por sua pouco carismática irmã Kilmaza.


No episódio 43, os produtores decidem radicalizar já que o programa não tinha dado certo como queriam mesmo. Satan Goss sofre uma metamorfose deixando de ser cosplay do Darth Vader pra ser cosplay do Chutullhu com cara de morcego - mudança que eu particularmente adorei, mas muitos garotos do meu tempo não curtiram - e chamando-se de Poderoso Satan Goss. O vilãozão, mais fortalecido do que nunca, enfim leva a cabo seu plano mestre e efetivamente cobre o Planeta Terra de monstros gigantes que agem como bestas enfurecidas, enquanto Jaspion e seus amigos se refugiam num local conhecido como Mundo de Edin, criado pelo mago estelar. Sim, por alguns episódios em Jaspion, o mal venceu e a Terra foi dominada pelo vilão.


Esse é o auge da história com Macgaren sendo definitivamente morto por Jaspion no episódio 45 - não sem antes se transformar num gigantesco Satan Goss enquanto agonizava (uma das melhores cenas de morte dos tokusatsus "Eu sou o Filho de Satan Goss") - e Edin sendo morto por Satan Goss no último capítulo ("Eu estou velho demais para ter medo de morrer"). Após um barraco básico com trocas acusações - “Você matou meu filho” e “Você matou meu pai” - Jaspion vai pra batalha final contra Satan Goss, o qual se revela páreo duríssimo, mesmo com a ajuda de quatro das cinco crianças.


O Pássaro Dourado volta e se torna uma Espada Gigante usada por Daileon na luta e mesmo assim o monstruoso vilão ainda parece ter vantagem. É quando a última criança irradiada pela luz surge das entranhas da Terra com seu choro de bebê afligindo Satan Goss o suficiente para que o herói liquide o vilão para sempre. Por um lado isso é poético, por outro devia ser a milésima vez que eles recorriam a um Deus ex Machina pra dar prosseguimento ao roteiro, o que demonstra a fragilidade do mesmo.


No fim, com a Terra em paz, Jaspion vai embora com o bebê que, descobre-se, ficou órfão após a nave de seus pais se chocar com o nosso planeta. Mas você acha que ele batizou o menino de Edin em homenagem a seu pai adotivo? Não. De Tarzan Galáctico! Se fosse só pelo final da produção Jaspion deveria figurar entre as primeiras produções do Top tranquilamente - exceto pelas MALDITAS CRIANCINHAS que infestam o seriado - mas acontecem tantos altos e baixos até chegar lá…



Pra ser justo, as cenas de ação e combate são algumas das melhores já feitas, a trilha sonora é contagiante, Macgaren também segura muito as pontas, é um dos maiores (senão o maior) vilão dos tokusatsus num trabalho fantástico de Junichi Haruta, que além de ótimo ator, dispensava dublês fazendo suas próprias sequências de ação. Apesar disso nunca foi páreo para o Jaspion que era de fato muito poderoso, chegando a destruir o Monstro Gigante Bosgan sem recorrer ao Daileon, só com sua Spadium Laser e o golpe Cosmic Laser.


Outro trunfo da atração foi justamente contar com o Gigante Guerreiro Daileon, pra muitos o mais incrível de todos os robôs gigantes de combate, não só por sua mobilidade e flexibilidade, mas também por seu carisma. Para muitos telespectadores o melhor capítulo de Jaspion é o 26, O Contra-Ataque de Daileon, que enfoca justamente a relação entre o protagonista e o robô, que inexplicavelmente ganha vida para ir salvá-lo do perigo. O que por sinal, é outro Deus exMachina do roteiro.


Também houve monstros memoráveis, como Paregonta ("Dance Paregonta, Dance!"), Sion e, claro, Namaguederaz. Por outro lado, os demais vilões, como o assassino Guila (que lia os movimentos do herói), Zampa e Kilza, foram pouco aproveitados na série e, bom, Jaspion é um herói com poucas motivações humanas e mal desenvolvido, se ancorando até demais no carisma do seu intérprete. Ele simplesmente era "o escolhido" porque tinha que ser, o público tinha que aceitar e basta.


E foi o ÚNICO herói de tokusatsu que eu me lembre que não tem nome humano. Até o Metalder que é uma máquina tinha uma identidade civil quando não estava transformado. E houve apenas dois capítulos, dentre quarenta e seis da série, para falar da sua pouco explorada vida pessoal, o do John Tiger, no episódio 41 e do Zampa ("Um garoto não pode me derrubar") no episódio 18.


NESTE QUESITO o Gyaban e sua busca pelo pai eram superiores ao Jaspion, em mais uma mostra dos problemas de planejamento do seriado. O que, mesmo assim, não o impediu de ser um grande campeão de audiência no Brasil e ter se tornado conhecido aqui como o super-herói japonês mais famoso que não veio da Nebulosa M-78.


Clique aqui e confira uma entrevista com Akira Kurosaki.

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