quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Climatinê: O Último Desafio

por
Corto de Malta


Um filme daqueles que não se faz mais...

Um perigoso chefe de cartel, Cortez (Eduardo Noriega, protagonista de Abra os Olhos, filme que deu origem a Vanila Sky), escapa do cerco da polícia federal comandada pelo agente John Bannister (Forest Whitaker) e se aproxima da fronteira entre o México e os Estados Unidos, num possante carro que é uma verdadeira máquina da morte.

Pela frente ele e seus capangas liderados pelo violento Burrel (Peter Stormare) terão como único obstáculo um velho xerife de uma cidadezinha no meio do nada, Ray Owens (Arnold Schwarzenegger), e sua inexperiente equipe, que conta com o ex-militar bêbado Frank Martinez (Rodrigo Santoro), os policiais Sarah Torrance (Jaimie Alexander, a Sif de Thor) e Mike Figuerola (Luiz Guzman) e o maluco por armas Lewis Dinkum (Johnny Knoxville, astro da série Jackass). É interessante notar como o diretor sul-coreano Kim Jee-won pegou um elenco principal praticamente todo formado por atores não nascidos nos EUA e criou um típico conto norte-americano sobre defesa do território em nome da lei e da ordem.



Além do próprio Jee-won, Noriega é mexicano, Stormare é sueco, Schwarzegger é austríaco, Santoro é brasileiro e Guzman é porto-riquenho. O Último Desafio foi visto por muitos como o longa metragem que trouxe o eterno Exterminador do Futuro de volta ao papel de único protagonista de um filme e, segundo ele mesmo declarou, o peso dessa responsabilidade era bem maior do que participar da franquia Os Mercenários. Mas também é um meio de Jee-won mostrar uma vez mais seu gosto pelo estilo faroeste, o mais americano dos gêneros cinematográficos.

Um dos seus filmes anteriores, Os Invencíveis (The Good, the Bad, the Weird ou O Bom, o Mau e O Estranho), era praticamente um western passado na China durante a Segunda Guerra. E o cineasta realmente passa uma segurança narrativa muito forte dentro desse gênero, mesmo fora da sua época normal. A trama mescla muito bem o desenvolvimento da história com a ação, que é graficamente muito bem feita. Tudo isso pontuado com ótimas tiradas de humor politicamente incorreto. 

O Último Desafio, contudo, não é nenhum primor de roteiro. É assumidamente uma aventura surreal e exagerada, onde pequenos heróis anônimos de uma cidadezinha são mais fodas que toda a força policial dos Estados Unidos da América. E por mais que a gente aceite isso em nome da diversão, chega uma hora que o excesso incomoda. Em qualquer situação normal já teriam tacado uma bomba no carro do Noriega no meio da estrada com refém e tudo. Também me incomodou aquela cena dos capangas abrindo caminho na estrada porque parecia que ninguém do FBI estava ligando pra eles. E, pelo amor de Deus, o vilão tinha uma organização de traficantes, chantagistas e assassinos. Onde foram arrumar uma empreiteiro pra contratar mão-de-obra suficiente pra erguerem aquela ponte?

 Pensar muito nisso e vamos acabar esbarrando no porquê um carro que aparentemente não poderia ser parado por nada tem que forçosamente passar por dentro de uma rua de uma cidade específica no meio do deserto. Pensando bem, um traficante de verdade teria fugido num avião particular e não bancaria o "psicopata do Batmóvel" como cita o perosnagem do Forest Whitaker. A grande questão é se o público consegue ou não mergulhar nesse universo caricatural. Pra mim foi relativamente simples porque, como citei, Jee-won costura a trama de forma segura e mantém uma narrativa sólida.

Um momento especular é o empolgante combo de duelos entre mocinhos e bandidos em quatro sequências seguidas: a do telhado, a da escada, a do sinalizador e a da velhinha, que juntos podem até ser considerados o verdadeiro clímax da trama e não a cena final da ponte, embora, mais uma vez, essa última seja divertida justamente por pregar até as últimas consequências - e em oposição ao resto do filme - o comportamento politicamente correto do xerife. 

 Impossível também não pensar que um filme tenha sido lançado num momento tão delicado dos EUA, e que a trama absurda do filme representaria as justificativas igualmente absurdas para civis terem armas em casa, apresentando os riscos de desarmar a população. A citada cena da velhinha parece até chacota em cima do povo que pede pelo desarmamento, embora seja também o ponto mais hilário do longa metragem. É verdade também que o produtor negou essa associação. Mas não seria esta a única "brincadeira" que beira a metalinguagem na história.

Que o digam os atores, que parecem representar caricaturas divertidas de suas próprias imagens no mundo real. A começar pelo próprio personagem de Schwarzenegger, um ex policial de Los Angeles que vive em uma semi-aposentadoria e precisa ir pro mano a mano de uma hora pra outra tendo a idade avançada como maior adversário. Ou John Knoxville que repete muito do que ele fazia em Jackass. Ou o próprio Rodrigo Santoro, cuja carreira em Hollywood até hoje não decolou completamente, fazendo um papel de um cara que "começou muitas coisas sem terminar".

 Ou - melhor ainda - Forest Whitaker praticamente reprisando seu papel em O Grande Dragão Branco, como um engravatado chato do governo. Na hora em que ele liga pro Schwarzenegger pra avisar que um grande traficante tentaria atravessar a fronteira por ali, eu quase achei que também perguntaria se não iria rolar um torneio secreto de artes marciais do Comitê por aquelas bandas.


2 comentários:

Renver disse...

Parece mais um filme descompromissado... me deu muita vontade de assistir.

Rodrigo Candido disse...

Não podia ter só um desses filmes por ano, e sim um por semana HAU HAUUA

Postar um comentário

Todos os comentários e críticas são bem vindos desde que acompanhados do devido bom senso.