terça-feira, 27 de março de 2012

Climatinê: Projeto X - Uma Festa Fora de Controle

por
Corto de Malta


Se Projeto X é o projeto de comédia adolescente dessa década, então acho que esse gênero já morreu.



Geralmente existem duas formas de se criar histórias sobre festas em Comédias. Ou se aposta no nonsense das situações aparentemente absurdas intercaladas com a perplexidade dos protagonistas (ou de algum personagem-chave) frente a sucessão de confusões, ou se usa a festa como crítica pra mostrar o processo de amadurecimento dos personagens, especialmente quando eles valorizam muito o status social em uma vida vazia.

Todo mundo já viu exemplos do primeiro conceito em Um Convidado Bem Trapalhão e Um Morto Muito Louco, do segundo conceito em Namorada de Aluguel e Ela é Demais, além daqueles que tentam misturar as duas idéias, como a cinessérie American Pie. Projeto X não abraça um estilo, nem o outro. No fim ele só quer ser um longa-metragem que registra uma galera se divertindo numa festa. O problema é que até chegar lá ele engana o público que vai seguir ora por um caminho, ora por outro. E por isso mesmo acaba sendo muito pretensioso.




No fiapo de história clichê, o tímido Thomas é convencido por seus amigos, o metido a esperto Costa e o gordinho nerd JB, a dar uma grande festa em sua casa na ausência dos pais para comemorar seu aniversário e assim se tornarem populares no colégio. Thomas, cujo próprio pai acha o filho um loser, é apaixonado por uma patricinha da escola que não dá bola pra ele, mas tem uma melhor amiga mais bonita e mais legal que ele sempre deixa de lado, Kirby. Sim, sobra espaço até pra um romance besta.

Antes de começar a festa, sem nenhuma razão aparente, os garotos roubam um traficante. Durante a festa, como diz o título em português, tudo sai de controle, a galera (que comparece em massa graças aos planos de Costa) fica bêbada e drogada, destrói a casa e o carro do pai de Thomas, infernizam os vizinhos, atraem a atenção da polícia, da imprensa e do traficante vingativo... mas os protagonistas decidem ligar o foda-se e se divertir.




E Projeto X é exatamente sobre isso... se divertir e esquecer tudo ao redor. A única coisa interessante são realmente as piadinhas e acontecimentos inusitados isolados da festa que fazem rir, mas cansam logo conforme tudo vai ficando propositalmente mais e mais exagerado e nenhum dos personagens liga pra isso.

E pra quê? Em Projeto X tudo vai dar certo no final. O pai vai se encher de orgulho do filho "virando homem", a garota que ele traiu vai perdoá-lo, os colegas o tornarão um herói e a mídia fará dele uma celebridade instantânea.




Tudo gratuitamente e da forma mais surreal possível. E isso nem é spoiler porque esse filme na realidade NÃO TEM CONFLITO NENHUM! Nem o tal do traficante é um "vilão", ele está lá só pra ser mais uma das tantas cenas inusitadas da festa. As partes chatas, ou seja, as consequências ruins dos acontecimentos, só são discretamente citadas. A mãe, policiais, advogados ou qualquer um que encare aquilo de outra forma são convenientemente jogados pra debaixo do tapete da narrativa.

A única coisa que deveria ser "original" era o estilo falso documentário (a lá Bruxa de Blair e Holocausto Cannibal), com um quarto amigo, Dax, filmando toda a ação com uma câmera. Mas logo a imagem que o público vê passa a ser também as das câmeras de celulares de outros personagens ou das câmeras dos helicópteros da TV. Chega um ponto da história que esse rodízio deixa qualquer um perdido, mas antes do final eles até que se encontram nesse sentido. Só é um recurso superestimado pra caramba.




Uma coisa particularmente irritante é o filme querendo se vender como politicamente incorreto (especialmente na parte relativa as drogas), mas só conseguindo retratar como os seus personagens são babacas. O Thomas faz TUDO que o Costa quer. "Deixe o vizinho chamar a polícia." "Toma, engole essa pílula", "Largue aquela garota e fique com a outra.", "Deixe esses dois garotos fazendo a segurança da sua casa.", etc. Se ele mandasse o Thomas dar a bunda eu não duvido que ele fizesse.

É muito difícil se identificar com tamanha babaquice, o que vai tirar boa parte da graça desse tipo de história já que você não vai se enxergar naqueles caras. E, a despeito do que outros críticos disseram pro aí, isso não tem nada a ver com o filme ser sobre essa ou aquela geração e sim sobre ter personalidade ou não ter. Projeto X e seu protagonista não tem. E detalhe que o próprio Costa também não tem personalidade, nem é carismático. Pelo contrário, é um dos personagens mais insuportáveis que eu já vi.

Se por acaso você estiver indeciso num fim de semana entre ir a uma festa ou ir ao cinema ver um filme sobre uma festa... vá a festa e esqueça o filme.


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