sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Climatinê: A Invenção de Hugo Cabret

por
Corto de Malta


Martin Scorsese decide brincar de Spielberg e cria uma justa homenagem a um dos maiores cineastas de todos os tempos, Georges Méliès.







Na Paris do começo do século XX, que vivia aquele período áureo pós-Primeira Guerra Mundial, o menino Hugo Cabret(Asa Butterfield) vive sozinho em uma grande estação de trem consertando os relógios. Órfão, ele busca desesperadamente consertar a última lembrança que restou de seu pai (Jude Law): um autômato que este encontrara no porão de um museu.

Para isso, ele se esgueira pela loja de brinquedos e truques do velho Papa Georges (Sir Ben Kingsley) enquanto procura fugir do Inspetor da Estação (Sacha Baron Cohen) seu cão. Logo, Hugo cria uma grande amizade com Isabelle (Chloe Grace Moretz), a afilhada do dono da loja, fanática por livros de aventura, que decide embarcar na do garoto. Aliás, é uma pena que nem todos os espectadores vão entender as sacadas literárias dela, um detalhe muito bem pensado do longa-metragem.





O que ocorre é que nas suas tentativas de consertar o autômato Hugo e Isabelle acabam esbarrando no grande segredo de Papa Georges: ele é na realidade o primeiro grande cineasta da história da sétima arte: George Méliès. Descobrindo que compartilham outras coisas em comum, além da mesma sensação de abandono, o velho e o garoto se tornam grandes amigos.

A história foi pensada precisamente imaginando o quanto da obra de Méliès ainda é conhecida pelo público moderno, ou seja, praticamente só a famosa imagem do tiro no olho da Lua.

Tanto o filme de Martin Scorsese quanto o livro de Brian Selznick aproveitam o fim melancólico da vida de Georges Méliès, que começou como mágico discípulo do grande Robert Houdin (que foi um mágico maior que o Houdini, que tinha esse nome em homenagem ao Robert), tornou-se um criador de sonhos para platéias lotadas e por fim se viu reduzido a dono de um lojinha numa estação de Paris, para traçar essa trajetória do reencontro do artista com sua magia através do ponto de vista onde ela adquire mais força, o olhar esperançoso de uma criança.





Todos os atores estão bem a vontade. Sir Ben Kingsley caracterizado ficou mesmo a cara do diretor de Viagem à Lua. As crianças Asa Butterfield e Chloe Moretz, já bastante experientes como atores, com certeza ainda vão fazer grandes coisas no Cinema. Helen McCrocry está maravilhosa como Mama Jeanne, esposa e grande companheira dos sonhos de Georges.

Todos os personagens da estação são bem representados e compõe bem o ambiente cartunesco por onde Hugo transita, com direito a uma participação especial de Christopher Lee, como o dono da livraria aonde Isabelle leva o protagonista. Mas o grande destaque fica por conta de Sacha Baron Cohen, numa composição inspiradíssima do Inspetor da Estação. Sem dúvida um dos melhores papéis que ele já representou. Michael Stuhlbarg completa o elenco principal como um alter ego do próprio Scorcese, um cinéfilo que cresceu apaixonado pela Sétima Arte e pelos "mágicos" por trás dela.

Scorcese se sai bem nesse novo desafio de sua longeva carreira. Ele faz um filme infantil sem erros ou sobressaltos. A trama é bem clichê sim e do começo ao fim quase tudo é bastante previsível, desde os coadjuvantes cômicos até a rendenção dos personagens na parte final. Mas A Invenção de Hugo Cabret é um filme que dá gosto acompanhar, sobretudo pela homenagem comovida que presta ao próprio ofício de fazer cinema (a cena que mostra que fim levaram os negativos dos filmes de Méliès dói no coração), mas também pelo esmero de Scorsese e equipe com os detalhes técnicos.





A Paris imaginada pelo diretor não é nada menos que deslumbrante e nesse caso o efeito 3D está ali unicamente para transpor o público para mais perto dessa beleza, seja na neve que mais parece envolver os personagens do que simplesmente cair, seja no belo dourado de todos os componentes mecânicos da história. É como se para o personagem Hugo os relógios, o autômato, os filmes... toda essa tecnologia fosse um grande tesouro.

Diferente de tantos filmes que buscam mostrar os males ou a desumanização do homem causada pela tecnologia, Scorcese faz uso específico daquele momento histórico (antes da quebra da bolsa de Nova York e da ascenção do nazismo e do facismo na Europa) para mostrar que o homem não precisa ser escravo da tecnologia, tal qual o guarda da estação que sofre de solidão auto imposta por ter uma prótese na perna, mas sim que ela pode significar a materialização de um sonho.

No caso de Hugo, o sonho de ter de novo uma família. No caso de Georges Méliès, o sonho de fazer os outros sonharem outra vez.


Um comentário:

Freud disse...

Copiando post de outro site, que lamentável...

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