O SBT estreou no princípio de abril uma nova produção que causou rebuliço nos bastidores da política brasileira: a novela Amor e Revolução, que fala sobre a luta armada contra a ditadura militar.
Escrita por Tiago Santiago e dirigida por Reynaldo Boury (que também interpreta o grande vilão da trama), a história conta os bastidores do Golpe de 1964 tanto do ponto de vista da família de militares do Capitão José Guerra (Claudio Lins), quanto da família de comunistas da líder estudantil Maria Paixão (Graziella Schmitt). Como em todo bom folhetim, José e Maria vão se apaixonar. Mas o que realmente chamou a atenção logo de cara foram as explícitas cenas de tortura praticadas por militares e policiais contra suspeitos e os depoimentos reais de sobreviventes dos anos de chumbo no fim dos capítulos.
Bastante insatisfeita, as Forças Armadas decidiram reagir. Vários deles, tanto na ativa quanto os da reserva, assinaram um abaixo-assinado pedindo a retirada da novela do ar, alegando tratar-se de parte de um acordo entre o dono do SBT, Silvio Santos, e o governo federal como forma de salvar o Banco Panamericano, de propriedade de Silvio. Lembrando que a presidente Dilma Roussef foi prisioneira política e torturada pela ditadura. O texto do abaixo-assinado, escrito por José Luis Dalla Vecchia, reservista da Aeronáutica e idealizador do movimento, pede ao ministério público medidas urgentíssimas pois a novela feriria a Lei da Anistia, além de denegrir a imagem dos militares junto a população.
Já associações de defesa ds direitos humanos por sua vez se posicionaram contra a censura a novela. Cecilia Coimbra, presidente do Tortura Nunca Mais, cujos membros são algumas das pessoas que dão depoimentos ao fim de cada capítulo, alegou que tudo mostrado na novela é a realidade dos fatos e que não deve ser ocultada.
Com toda essa polêmica, Amor e Revolução virou até manchete no Clarín, o jornal mais importante da Argentina que, diga-se de passagem, também viveu anos terríveis sob uma ditadura militar. Sob o título "Los militares brasileiños en pie de guerra com una telenovela" (sim, peguei emprestado o título deles pra postagem) os hermanos narram a polêmica que envolve a história do período em que as Forças Armadas depuseram o governo democrático do presidente João Goulart e implantaram a ditadura no Brasil.
Em alguns pontos os militares tem suas razões. É impossível saber se a estréia de Amor e Revolução e a falência do Banco Panamericano tem algum ponto de convergência, mas fica difícil pensar em coincidência num caso assim. Nunca houve uma produção em horário nobre mostrando os horrores da ditadura até então. O máximo a que se chegou foi a minissérie Anos Rebeldes na Globo, que passava mais tarde da noite.
E Tiago Santiago é um autor maniqueísta, que claramente coloca os revolucionários como bons e os militares como maus, com excessão dos militares que apoiam a democracia na trama, como o protagonista José Guerra. Ainda com essa ressalva, o texto dele é muito fraco, embora seja melhor do que na época que escrevia a tosquice Os Mutantes na Record, onde ele pode ter acabado com qualquer chance de o grande público brasileiro aceitar uma obra de ficção-científica séria no futuro, tamanho samba-do-crioulo-doido de (de)feitos especiais que virou a produção, mostrando a luta de mutantes "do bem" contra mutantes do "mal".
O grande receio é que o que ele fez com as cenas de realismo fantástico em Os Mutantes, ele faça com as cenas de tortura, que podem soar gratuitas exatamente pra um público desacostumado a ver retratados os horrores que ocorriam nos porões do regime militar. O que alivia um pouco esse lado é que o elenco escolhido é particularmente muito bom e quase todos acham um tom certo para atuar numa obra tão difícil.
Por outro lado também, é um absurdo e um contra senso os militares quererem censurar uma novela onde são mostrados como antidemocráticos exatamente por terem medo que as pessoas os vejam como antidemocráticos. A carapuça serviu bem demais nesse caso. E, além disso, passado já tanto tempo, muitos crimes não foram esclarecidos e corpos não foram encontrados até hoje. Em outras palavras, as pessoas tem o direito de saber que atrocidades como esta aconteceram:
5 comentários:
Lei da Anistia!!!!!
belo nome que foi dado pra ninguém culpar os bois
Caraca deu aflição ver/ouvir esse vídeo!!!!!
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Obviamente esse pensamento maniqueísta do autor não é o mais acertado... mas é melhor isso do que nada!!!!
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Esse post só me deu mais inspiração pra fazer minah prometida resenha da HQ V de Vingança!!!!
Sempre acho engraçado tentar proibir alguma coisa, qualquer que seja. Liberdade de expressão então serve só para si, para o outro não, né?
Gostei do blog, Corto (um dos personagens em quadrinhos que mais gosto).
Abração e apareça,
www.ofalcaomaltes.blogspot.com
Estava vendo ontem uns trechinhos dessa novela...
é meio mau escrita mesmo eim...
É totalmente equivocado esse ponto de vista maniqueísta...
Sejamos franco essa era uma briga que nem competia a nossa nação (ao povo brasileiro), infelismente fomos fantoches das grandes potências da época.
Mas nada justifica a tortura, nada...
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