sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Especial: Famílias da Ficção Parte 1 - Humor em Família
Se tem uma coisa que sempre rende história é o tema Família. Vamos ver aqui algumas das mais significativas começando a relembrar pelas comédias em família, até porque todo mundo já teve motivos pra rir ou chorar com a sua família. E, em alguns casos especiais, chorar de rir.
Anarquia em Película
Vamos começar com a minha família preferida: Os Vanderhof. Em 1938 o diretor Frank Capra adaptou uma famosa peça de teatro vencedora do Pulitzer e criou a obra prima Do Mundo Nada Se Leva (You Can't Take It with You), que ganhou os Oscars de Melhor Filme e Diretor.
A história?
Imagine uma família aonde você pode fazer o que você quiser.
É assim que na cena de abertura o patriarca, Vovô Martin Vanderhof (Lionel Barrymore), convence um desconhecido a ir morar com ele, largando seu burocrático emprego de contador para ir fazer o que mais gosta na vida: brinquedos. Chegando lá, Poppins (Donald Meek) encontra a casa mais bagunçada do mundo, onde vivem numa insuspeita Felicidade com o Vovô: sua filha, escritora e pintora, o genro que fabrica fogos de artifício com um amigo no porão, a neta mais nova, que aprende balé com um excêntrico professor russo, seu marido músico, o alegre casal de criados e a neta mais velha, Alice Sycamore (Jean Arthur), que trabalha como secretária de seu namorado, Tony Kirby (James Stewart), filho do magnata de Wall Street Anthony Kirby (Edward Arnold).
É o inescrupuloso Anthony Kirby quem vai mudar a vida dos Vanderhof pra sempre, pois pretende comprar todas as casas da região, sendo que o único empecilho para derrubar todo o quarteirão é a residência do irredutível Vovô Vanderhof, com sua contagiante filosofia de vida baseada no princípio da simplicidade. É esse princípio que fascina Tony ao conhecer a família da namorada e inocentemente tentar apresentar seus respeitáveis pais a eles.
Um marco do Cinema, Do Mundo Nada Se Leva mostrou uma anarquia diferente daquela vista hoje em dia com personagens como V ou Coringa.
Houve outras grandes comédias no Cinema envolvendo hilárias e loucas famílias, curiosamente muitas delas baseadas em textos para o Teatro ou a Literatura como Caminho Áspero (Tobacco Road, 1941) de John Ford, Esse Mundo é um Hospício (Arsenic Old Lace, 1944) do próprio Frank Capra, ou O Pequeno Rincão de Deus (God's Little Acre, 1958) de Anthonny Mann, Os Excêntricos Tenenbaums (The Royal Tenembaums, 2001) de Wes Anderson, entre muitos outros. Mas nada me tira da cabeça que Do Mundo Nada Se Leva foi a base pra grande parte das sitcoms, as comédias de situação que se tornaram comuns na televisão.
Surgem as Sitcoms
I Love Lucy, estrelado por Lucille Ball e seu marido (na ficção e na vida real) Desi Arnaz, foi a primeira sitcom a estourar em popularidade nas TVs norte-americanas desde sua estréia em 1951. Considerada por alguns até hoje a melhor comédia de situação ela lançou as bases que formariam a fórmula das sitcoms por anos a fio e que poucas séries realmente conseguiram quebrar com sucesso.
A atração de de início quase não foi ao ar, porque os produtores não achavam politicamente correto o astro principal ser cubano pois pensavam que o público estadunidense não receberia bem isso. A forma de convencê-los foi mudar o título, que originalmente se chamaria Desi Love Lucy, sendo que o i de I Love Lucy seria uma referência a última letra do primeiro nome do ator.
A história do atrapalhado casal formado pelo músico Ricky Ricardo, vivido por Arnaz, e de sua esposa Lucy, que tentava fazer de tudo para o marido alcançar o sucesso acompanhados do igualmente atrapalhado casal de vizinhos chegou a picos absurdos de audiência na época, com cerca de mais de 70% dos televisores ligados no episódio em que Lucy dá a luz seu primeiro filho.
I Love Lucy está pros EUA exatamente o que anos depois El Chavo, o nosso Chaves, virou pra América Latina. Uma marca atemporal com infindáveis reprises que não perdem a graça nunca. Anos após a morte de Ricky, Lucy ainda estrelou alguns sitcoms sozinha, nunca com o mesmo impacto.
Na década de 50 ainda surgiria um sucesso mundial na TV norte americana vindo do rádio: Papai Sabe Tudo (Father Knows Best ), protagonizada pelo Robert Young. Ele vivia Jim Anderson, um pai de família comum, com esposa e três filhos jovens, que trabalhava como agente de seguros.
Infelizmente, a versão original do radio foi modificada e os personagens pasteurizados. Ao invés de uma família com defeitos, eles passaram a representar um modelo ideal do estilo de vida idealizado dos anos 50.
Em 1962 o público conheceu a Família Buscapé (The Beverly Hillbillies), que contava a história da Família Clampett, um grupo de caipiras que achava petróleo em sua propriedade e se tornavam milionários do dia pra noite. Assim o patriarca Jed, sua bela e forte filha, Elly May, sua sogra mau humorada, a Vovó, e seu sobrinho trapalhão, Jethro, partem com seu célebre calhambeque e vão morar numa luxuosa mansão em Bervely Hills.
Só que os Clampetts, apesar de subirem de classe social, no fundo não mudam nada, permanecendo os mesmos caipiras, o que causa um tremendo choque cultural. A popularidade do seriado, além de lhe garantir uma boa longevidade, levou a criação de um desenho animado feito em 1965 pelos estúdios da Hanna-Barbera. Anos depois, em 1993, A Família Buscapé também virou um longa metragem pro Cinema.
Outras famílias fizeram sucesso nessa época. Uma delas, a Família Stephens da série A Feiticeira de 1963, onde a bruxa Samantha (Elizabeth Montgomery) casa-se com o publicitário James (ou Darin) Stephens (Dick York substituído depois por Dick Sargent) e tenta levar uma vida normal como uma pacata dona de casa de subúrbio, mas a rotina dos Stephens sempre vira de pernas pro ar quando os parentes feiticeiros de Samantha aparecem, especialmente sua atrapalhada tia Clara (Alice Ghostley) e sua controladora mãe Endora (Agnes Moorehead), que não se conforma da filha ter casado com um reles mortal, cuja maior ocupação é trabalhar na agência do malandro Larry Tate (David White).
Mesmo assim James e Samantha ainda vivem uma vida doméstica feliz, em meio a mágica, bruxos, contas publicitárias e vizinhos abelhudos, os Kravitz. O casal tem dois filhos ao longo da série, Tabatha e Adam.
Outro sucesso foi A Família Dó-Re-Mi (The Partridge Family, 1971), que mostrava a vida de Shirley Partridge mãe de Keith, Laurie, Danny, Chris e Tracy, que juntos formavam a Banda Partridge, vivendo num ônibus colorido em constante viagem de cidade em cidade através dos EUA. Mais anos 70 impossível.
A música foi o diferencial que tornou a série tão famosa, chegando a gerar um desenho animado produzido pela Hanna-Barbera, Partridge Family 2.200 AD, mostrando aventuras da Família Dó-Re-Mi no futuro (já que na verdade essa produção devia ter sido a segunda temporada de Os Jetsons).
Provavelmente as primeiras famílias que quebraram a fórmula politicamente correta já conhecida e repetida por tantas outras foram Os Monstros e Os Addams, em 1964.
Em Os Monstros (The Munsters) conhecíamos a simpática e bizarra Família Monstro onde o patriarca, Herman Monstro, era o Monstro de Frankenstein, sua esposa, Lily, e seu sogro, o Vovô, eram vampiros, e seu filho, Eddie, era um lobisomem, todos com o visual inspirado nos monstros clássicos da Universal. Ah, claro não podemos esquecer da "estranha" da família, Marilyn, uma bela loirinha (que era Marilyn Monroe?), sempre despertando a piedade dos tios Herman e Lily por ser "muito feia".
Mas o mais bizarro era que a Família Monstro vivia exatamente como uma família de classe média norte-americana (a não ser pelas experiências no laboratório do Vovô e pelo casarão macabro que habitam), ainda que causasse muito estranheza de quem estivesse ao redor.
A série chegou a ter uma espécie de continuação no fim dos anos 80 com um novo elenco, com a desculpa de que Os Monstros tinham ficado em animação suspensa devido a uma experiência do Vovô.
Se existiu uma família mais estranha que Os Monstros, com certeza foram Os Addams. A Família Addams (The Addams Family) na verdade surgiu antes, embora sua série só tenha sido produzida em 1964 também. Eles foram criados nas histórias em quadrinhos de Charles Addams nos anos 30, baseados em sua própria família.
Gomez é o patriarca milionário e niilista, loucamente apaixonado por sua esposa Mortícia, uma mulher pálida, bonita e sofisticada. O casal tem dois filhos, Wandinha (ou Wednesday), uma menina parecida com a mãe, mas muito mais sádica, que adora torturar seu masoquista irmão, Feioso (ou Pungsley) para o deleite do próprio. Outro masoquista é o tio Chico (ou Fester), irmão de Gomez, que adora explodir tudo, incluindo a si mesmo. Também moram na mansão da família, em meio a monstros, masmorras e armadilhas, a Vovó, uma bruxa atrapalhada, Tropeço (ou Luch), o mordomo alto e mudo, com um visual que lembra Frankenstein e o Mãozinha (ou Thing), que é... uma mão!
Vale destacar os parentes que surgem as vezes, com destaque para o Primo It (ou Primo Coisa), um ser literalmente coberto de pêlos a ponto de não se poder ver a cara e que era um membro importante do governo.
Enquanto os Monstros eram nada mais do que uma família de classe média repleta de humor ingênuo os Addams eram aristocratas com humor negro pra dar e vender. Eles nunca trabalhavam e tinham um gosto especial pra qualquer tipo de bizarrice, despertando a fúria dos vizinhos caretas.
Um grande sucesso, A Família Addams ainda rendeu dois longas metragens pro cinema (com Raul Julia, Angelica Houston e Christopher Loyd vivendo respectivamente Gomez, Mortícia e Tio Chico), um longa metragem pra video, uma nova versão da série em 1998 e dois desenhos animados da Hanna-Barbera (em 1973 e 1992). A Hanna-Barbera, por sinal, é a produtora de desenhos animados especialista em histórias de família (falaremos mais dela na segunda parte do especial).
Novos tempos, novas séries
Nos anos 60 e 70 o mundo estava mudando e algumas séries foram criadas nitidamente pra acompanhar os novos tempos:
Tudo em Família (All in the Family, 1971) contava a história da Família Bunker e criou um personagem icônico: o super conservador e republicano patriarca Archie Bunker, que vivia em conflito com esse mundo em transformação seja na figura da filha liberal, do genro polonês ou dos vizinhos negros, os Jeffersons, que depois ganharam série própria. Era sempre sua esposa quem segurava a onda do marido.
A atração foi pioneira ao lidar com temas considerados tabu como homossexualidade, religião, racismo, estupro, impotência etc. de uma maneira inteligente, pois Archie representava a voz de muitas pessoas ignorantes e por isso preconceituosas sobre diversos assuntos e o roteiro era conduzido de forma a mostrar que muitas vezes ele estava errado.
Esse politicamente incorreto do personagem fez tamanho sucesso que o seriado seguiu adiante ao longo de 12 anos mantendo praticamente só ele e mudando todo o resto. A filha dá a luz um neto, os vizinhos negros se mudam e são substituídos por um casal de italianos, sua filha e seu genro saem do programa ao irem morar longe com o filho, o cenário principal da casa da Família Bunker é substituído por um bar que Archie abriu com um sócio e ele e sua esposa passam a criar uma sobrinha, então aparece um novo sócio judeu no bar, mas logo a mulher de Archie morre e ele acaba contratando uma empregada negra pra cuidar da sobrinha, o sócio judeu sai e ainda surge uma nova sobrinha que se envolve com um homem mais velho.
O programa, que mudou até de nome passando a se chamar Archie Bunker's Place, chegou ao fim completamente diferente de como tinha começado e essa parece que se tornou uma regra para séries que tem longa duração.
Caso parecido ocorreu com Minha Famíla é uma Bagunça/ Arnold (Diff'rent Strokes, 1978), onde conhecemos a Família Drummond. Nela, Phillip Drummond (Conrad Bain) é um homem branco e rico, viúvo com uma filha, Kimberly (Dana Plato), que adota dois meninos negros, Willis (Todd Bridges) e Arnold (Gary Coleman) Jackson, filhos de sua falecida empregada.
Inclusive, o seriado teve várias empregadas com o passar dos anos: Sr. Garrett (que saiu pra protagonizar um spin-off da série), Adelaide e Pearl, além da presença constante da irmã do Sr. Drummond em algumas temporadas. Diff'rent Strokes começa a declinar mesmo com a saída de Kimberly (afastada pela gravidez de Dana Plato) do elenco fixo para só algumas participações, ela foi substituída pela personagem de uma mulher divorciada que se casa com Phillip Drummond e vai morar em seu apartamento com o filho pequeno. Além do público estranhar muito essa nova fase, logo a atriz que vive a nova Sra. Drummond é substituída por outra e o programa fica irreconhecível de vez chegando ao logo ao fim.
Apesar de seguir uma linha politicamente correta, a série explorou várias polêmicas ao longo das temporadas como racismo, bulimia, abuso sexual, drogas etc. e virou um marco na TV estadunidense. Infelizmente, o programa acabou também sendo lembrado porque todas as suas jovens estrelas terminaram se envolvendo em escândalos que terminaram nas páginas policiais.
Nos anos 80, quando as sitcoms pareciam destinadas a acabar, um programa de TV virou hit na TV (inclusive sendo citado em vários outros seriados), o The Cosby Show, estrelado pelo próprio comediante Bill Cosby, onde era mostrada o cotidiano da Família Huxtable, uma família negra de classe alta de Nova York, formado por um médico, um advogada e seus cinco filhos.
Grande parte do sucesso do Cosby Show veio da liberdade dada pelos produtores a Cosby na atração, onde o comediante sempre tirava humor da rotina. O sucesso foi surpreeendente não só pelo marasmo do gênero na época, mas pelo elenco da série ser predominantemente negro, o que causou polêmica, mas que também serviu de base a muitos outros seriados semelhantes dali em diante, embora houvesse também opiniões que taxaram o Cosby Show de conservador e como uma versão de Papai Sabe Tudo com uma família negra.
O triunfo do humor politicamente incorreto
Em 1987 estreava Um Amor de Família (Married... with Children), que apresentou ao público a mais desajustava de todas as famílias: A Família Bundy. Formada por Al, um frustrado e folgado vendedor de sapatos femininos, sua esposa, a perua Peggy, e seus filhos, a gostosa e burra Kelly e o lerdo e atrapalhado Bud, além do cachorro preguiçoso Bucky.
Os Bundy foram a primeira família 100% politicamente incorreta a surgir na TV dos EUA ao mostrar descaradamente os defeitos de seus personagens, causaram polêmica entre os críticos com seu humor corrosivo, mas conquistaram uma legião de fãs, que fizeram o programa gerar várias outras sitcoms inspiradas neles, incluindo a bizarra Guerra dos Pinto, versão brasileira de Um Amor de Família e o sucesso atual Família Moderna (Modern Family, 2009) estrelada pelo mesmo Ed O'Neal que deu vida a Al Bundy anos atrás e agora interpreta Jay Pritchett, casado com uma mulher latina mais jovem e com um filho que convive com as famílias da filha, Claire e do filho gay Mitchell, que adota um bebê vietnamita com o companheiro.
Voltando um pouco aos anos 90 também fizeram sucesso:
A Família Banks, de Um Maluco no Pedaço (The Fresh Prince of Bel-Air, 1990), que mostrava um então jovem Will Smith saindo de seu humilde apartamento na Filadelfia para alterar pra sempre a rotina de uma rica família negra que vivia num bairro chique de Los Angeles.
Lá o rapper descolado Will passa a viver com seu Tio Phillip, advogado sério e exigente, sua Tia Vivian, uma professora engajada, sua prima Hillary, uma patricinha cabeça ôca, seu primo Carlton, mauricinho por natureza e republicano convicto, sua prima simpática Ashley e seu priminho Nick (que nasce no decorrer da série) além do hilário mordomo Geoffrey, que não perde uma oportunidade de tirar sarro de tudo e todos ao seu redor.
Um Maluco no Pedaço também teve um lado dramático presente, especialmente quando abordava a questão racial, mas o forte mesmo eram as armações em que Will se metia com o primo Carlton e seu amigo Jazz, despertando a fúria de seus tios.
Apesar de no início Um Maluco no Pedaço parecer mais um cruzamento da Família Buscapé com o Cosby Show, logo os roteiristas encontraram uma identidade própria que rendeu uma das atrações mais hilárias da TV. Outra característica marcante da atração é que, apesar de Phillip e Vivian serem ricos, seu passado humilde e batalhador constantemente era lembrado.
A Família Russo de Blossom, que estreou em 1991, contando a história da jovem e inteligente adolescente Blossom Russo e a vida de sua família após a mãe abandonar o lar pra ir morar na França: o pai Nick, músico divorciado, o irmão mais velho Tony, usuário de drogas em recuperação e o irmão totalmente cabeça ôca, Joey. Apareciam sempre na casa dos Russo o avô materno Buzz e a melhor amiga de Blossom, a falastrona Six.
Pode não parecer só por essa sinopse, mas a atração era muito divertida, focando mais na rotina adolescente e divertida dos personagens, embora o que com certeza garantiu o sucesso da trama foi a sensibilidade e a delicadeza com que a protagonista narrava sua rotina com o pai e os irmãos.
Pra variar Blossom chegou ao fim bem diferente de quando começou. Tony casa, tem um filho e depois sai da série, enquanto Nick noiva e se casa novamente com uma mulher divorciada com uma filha pequena (onde eu já vi isso antes?) que entram pro elenco fixo. Quando Joey também fica noivo o seriado chega ao fim.
A Família Sheffield em The Nanny de 1993, que mostrava uma família rica e certinha formado pelo britânico viúvo e produtor teatral de prestígio Maxwell e seus filhos Brighton, Maggie e Grace, cuja vida sofre uma reviravolta com a chegada da babá, a desajeitada vendedora de cosméticos Fran Fine, que conquista as crianças arrumando várias confusões e algumas temporadas depois acaba se casando com Maxwell, passando de babá a dona da casa dos Sheffield, onde também vivem o sarcástico mordomo Niles e C.C., a perua colega de Maxwell e louca por ele que odeia Fran e Niles, que vivem fazendo ela de idiota, mesmo que no fundo C.C. que se sinta secretamente atraída pelo mordomo.
Na última década o número de sitcoms cresceu muito tanto nos EUA quanto em outras países como a Grã Bretanha. E vocês sabem. Tempos novos, famílias novas. Assim, conhecemos a Família Cayle de Eu, a Patroa e as Crianças (My Wife and Kids, 2002), formado pelo carismático e sarcástico Michael, sua mulher estressada e histérica Jay, seu filho (muito) burro Junior, sua filha vaidosa e patricinha Claire e a caçula Kady.
Apesar de tambérm ser inspirada no Cosby Show (e em parte na vida do próprio Damon Wayans que faz o papel de Michael) a atração também conseguiu conquistar sua identidade própria com o tempo cada vez que mais personagens importantes entraram pro elenco, como Tony o namorado (muito) religioso de Claire, Vanessa a namorada que engravida de Júnior e termina casando com ele, Calvin, o enorme e mal humorado pai de Vanessa, Jamine a mãe folgada de Vanessa, e Franklin, o hilário namorado gênio de Kady que apesar da pouca idade já fez várias faculdades, é perito em várias profissões, fala vários idiomas etc.
Uma sitcom que também partiu de uma idéia muito legal foi Mais Que Uma Família (Like Family, 2003), onde conhecemos a Família Ward, onde a metódica Tanya e seu estressado marido Ed criam a bela adolescente Danika e o levado garoto Bobby, junto com o velho malandro Pop. A história começa quando a melhor amiga de Tanya, a mãe solteira Maddie, vem morar com eles trazendo filho, o adolescente rebelde Keitch.
Só um detalhe: Tanya, Ed, Danika, Bobby e Pop são negros e Maddie e Keitch são brancos.
A idéia de juntar uma família politicamente correta negra com uma família politicamente incorreta branca foi um conflito genial e merece mesmo o título que ganhou em português. Inexplicavelmente a atração só teve uma temporada, mas era muito legal.
Outra que merece destaque é A Família Rock de Todo Mundo Odeia o Chris (Every Body Hates Chris) que estreou em 2005 baseado na infância real do comediante Chris Rock, que narra o seriado. Em plena década de 80, Chris é o filho mais velho do (muito) trabalhador e igualmente pão duro Julius e da autoritária Rochelle. É sempre ele quem leva a culpa pelo que aprontam os irmãos mais novos Drew e Tonya.
Obviamente a história viaja muito e não dá pra dizer que é totalmente real (por exemplo Tonya era na verdade um menino chamado Tony), mas ainda assim guarda a força de todas aquelas histórias que vem com as lembranças de infância. Chris é incrivelmente azarado seja na escola, nos empregos que arruma, em casa, com as meninas ou até mesmo na rua. Mas ao lado seu amigo Greg continua sempre se divertindo, ainda que tudo termine mal pro lado deles.
Porém, nessa última década acredito ninguém teve mais destaque que a Família Harper de Dois Homens e Meio (Two and a Half Man, 2003) que mostra dois irmãos totalmente diferentes: o solteirão mulherengo Charlie (Charlie Sheen) e o introvertido divorciado Alan (Jon Cryer) que, após o fim de seu casamento, vai viver na casa do irmão e juntos tentam criar o filho de Alan, Jake (Angus T. Jones). O seriado todo é basicamente calcado no choque de estilos de vida dos irmãos com um humor pra lá de politicamente incorreto. Também aparece as vezes a louca mãe de Charlie e Alan, Evelyn (Holland Taylor), que eles detestam.
Parece que mesmo o mundo se tornando cada vez mais politicamente correto são as comédias familiares politicamente incorretas que vão cada vez mais conquistando espaço. E não dá pra citar tais humorísticos sem falar dos que foram produzidos aqui.
No Brasil
O pioneiro foi A Família Trapo, transmitido pela Record nos anos 60, em que o humorista Ronald Golias vivia o malandro e folgado Carlo Bronco Dinossauro que morava com a irmã Helena Trapo (Renata Fronzi), seu cunhado Peppino Trapo (Otelo Zeloni), os sobrinhos Verinha (Cidinha Campos) e Socrates (Ricardo Corte Leal), além do mordomo Gordon (Jô Soares).
A Família Trapo foi um marco da TV brasileira e praticamente todas as sitcoms feitas depois tomam ela como base. O personagem de Golias foi tão icônico que ele o reapresentou em outras duas sitcoms muitos anos depois: Bronco na Bandeirantes e Meu Cunhado no SBT.
Em 1972 a Globo estreou uma atração inspirada no estadunidense Tudo em Família, A Grande Família, onde víamos a rotina da Família Silva: o veterinário Lineu, sua esposa Nenê as voltas com os filhos Tuco, Junior e Bebel, o marido desta, Agostinho, além do idoso Seu Flor, pai de Nenê. Nos anos 80, 12 anos depois de seu encerramento, foi realizado um especial onde era mostrada a Grande Família tempos depois com os filhos casados e os netos de Lineu e Nenê.
Nos anos 90 o SBT levou ao ar O Grande Pai, onde Flávio Galvão era o empresário viúvo Arthur que tinha que cuidar de três filhas, Jô, Ana e Flor com ajuda da empregada Maria, vivida por Debora Duarte.
Uma sitcom que também fez muito sucesso foi o Sai de Baixo, que estrou em 1996, mostrando A Família Mathias, uma família do Largo Arouche em São Paulo formada por Vavá, um empresário do ramo de turismo, sua irmã perua Cassandra, viúva de um Brigadeiro da Marinha, a sobrinha burra e tarada, Magda, o malandro com fobia de pobre e marido de Magda, Caco Antibes, a empregada sarcástica Elileuza e o porteiro louco Ribamar.
Geralmente as coisas aconteciam em volta de algum trabalho de Vavá (que teve várias empresas durante a atração) ou um golpe de Caco que envolviam Ribamar, Magda, Edileuza e os demais. Sai de Baixo teve grandes momentos cômicos, mas o desgaste do elenco acabou afetando a série que sofreu dos mesmos problemas já citados aqui... troca de empregada, troca de cenário da casa por um bar etc., até também chegar ao fim completamente desfigurada.
Anos depois Miguel Falabella, que viveu Caco Antibes, estrelou outra sitcom, Toma Lá, Dá Cá, também na Globo.
Em 2001 a Globo realizou um remake de A Grande Família, que superou o sucesso do anterior, atualizando-a aos novos tempos, embora a retirada do personagem politizado Junior tenha sido a primeira mudança notável. Com o tempo foram aparecendo mais personagens e agregados à Família Silva: o pasteleiro Beiçola, a cabeleireira Marilda, o patrão de Lineu, Mendonça, a namorada mais firme de Tuco, Gina e o mecânico Paulão da Regulagem.
Duas coisas são muito curiosas: Pedro Cardoso viveu um segundo marido de Bebel que ela teve ao se separar de Agostinho no especial da primeira versão e na segunda versão deu vida ao próprio Agostinho.
E o personagem Lineu que vemos hoje interpretado por Marco Nanini é quase uma antítese do Archie Bunker do Tudo em Família, que deu origem a ele na versão anterior.
Na segunda parte do especial: Famílias Animadas!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
9 comentários:
Excelente post amigão!!!!
aí sim você usou os eu potencial de enciclopédia televisa!!!
depois eu termino de ler a parte das séries brasileiras...
só um adendo:
Em 1987 estreava Um Amor de Família (Married... with Children), que apresentou ao público a mais desajustava de todas as famílias: A Família Bundy. Formada por Al, um frustrado e folgado vendedor de sapatos femininos, sua esposa, a perua Peggy, e seus filhos, a gostosa e burra Kelly e o lerdo e atrapalhado Bundy, além do cachorro preguiçoso Bucky.
foi aqui que comçou o clixé de semrpe ter um personagem burro na família??
*clichê
E outra coisa "Eu, A patroa e as crianças"
Pra mim foi um marco!!! Essa série me fez rir horrores!!!!
que pena que a série se desgastou muito... principalmente coma entrada do Franklin (eu odeio esse personagem)...
Pois é. Eu já acho que o Franklin salvou a série. Tanto que ele ganhou muito tempo em cena. Acho que sem ele o seriado acabaria bem antes.
E na verdade eles chamavam o filho do Al de Bud e não Bundy. Deve ser um diminutivo do sobrenome da família. Vou corrigir.
Excelente post, uma verdadeira enciclopédia, imagino o enorme trabalho que deve ter dado, rsrs.
Enfim, adoro séries em familia, adorava My wife and kids e agora adoro Everybody hates Chris (não sei porque foi cancelada :/) e comecei a assistir Modern Family por falta do que fazer meses atrás e agora estou adorando. Two and a half man nem se fala, rs.
Parabéns pelo blog, de verdade mesmo.Ótimo trabalho.
Se quiser conferir:
http://tacadesabedoria.blogspot.com/
O Everybody Hates Chris foi cancelado naquele ponto por dois motivos: primeiro porque naquele momento da vida do Chris Rock ele ia começar a virar comediante e também naquele ano o pai dele, Julius, morreu e ele não queria tratar desses assuntos na série.
Que postagem incrível! Me lembrou muita coisa já perdida HSUSHUSHSU
belo post.. Minha preferida sempre foi e sempre será a Família Bundy, de Um amor de Família. Eu ia corrigir o nome do Bud mas como já arrumou, deixa pra lá o/
Faltou um monte de serie.
que trabalho deve ter dado pra motnar tudo isso aliás li outro artigo de "melhor/pior pai do mundo" com gen pés descalços e depois daqui que me deu realmente vontade ir atrás da obra, o autor do blog tá de palabens.
Postar um comentário
Todos os comentários e críticas são bem vindos desde que acompanhados do devido bom senso.