Climatinê - A Possessão de David O'Reilly Por L

É praticamente impossível descrever “A Possessão de David O’Reilly”. E isso não é um elogio. Ou melhor, a descrição do filme já é praticamente um spoiler (da parte compreensível pelo menos).

História

Após ser traído por sua namorada, David O’Reilly (Giles Alderson) chega à noite na casa de seu melhor amigo Alex (Nicholas Shaw) e de sua namorada Kate (Zoe Richards). David acaba passando a noite por lá, o que pode colocar a vida de seus amigos em perigo, já que certos demônios parecem acomanhar David. Estaria ele possuído, ou seriam apenas alucinações?

Alex e Kate: Ah, se eles soubessem o que os espera

Crítica (SPOILERS)

Apesar de os filmes com baixo orçamento gerarem certa simpatia e condescendência dos críticos, isso se aplica mais aos critérios técnicos como luz, som, figurino, maquiagem, etc... Porém, roteiro, edição e atuações são partes mais democráticas e devem ser analisadas de igual para igual com qualquer grande produção de Hollywood.

Infelizmente neste caso, é quase consenso geral que “A Possessão de David O’Reilly” tinha um bom potencial que acabou sendo desperdiçado. Não seria um filme revolucionário, já que a fórmula é bem conhecida de “REC” ou “Atividade Paranormal”, mas poderia ser um bom divertimento.

O grande problema acabou sendo um roteiro muito confuso. O pior é nem poder dizer “alguns fatos parecem jogados” já que aqui MUITOS fatos são simplesmente vomitados no colo do espectador, sendo o ápice a personagem Anna, que não acrescenta absolutamente nada à trama.

Porém as atuações até se sobressaem. Ou melhor, a atuação. Alvo de algumas críticas, Giles Alderson cumpre muito bem seu papel. Alguns reclamam de seus gritos serem um tanto quanto “femininos”... Bom, creio que quem já sentiu pavor de verdade não deve ter dado gritos muito másculos.

Porém, este acaba sendo um problema também: David é praticamente o único personagem do filme. A câmera fica quase o tempo todo nele, e isso impede o desenvolvimento dos outros personagens de um elenco já bem reduzido. Todos os outros fazem aparições bem rápidas, não tendo muito como se destacarem. Positivamente ao menos.

Como em todos os filmes de terror/suspense, sabemos que os personagens não primam muito pela inteligência. Mas neste filme a burrice chega a nível executivo. Não existe uma explicação plausível ou minimamente aceitável para os personagens permanecerem na casa depois de uma noite agitada. Mas simplesmente resolvem dormir, numa boa, como se nada tivesse acontecido.

  

Os efeitos e os sons são muito bons, isso não há de se negar. Porém alguns exageros acabam nos fazendo pensar que estamos mais num videogame do que propriamente num filme. Outro ponto positivo é colocar a câmera às vezes em primeira pessoa.

Eu até queria acreditar que o filme possua um propósito que eu não tenha descoberto ainda. A efeito de comparação, o filme se parece com aqueles livrinhos infantis em que você tem imagens, mas tem de preencher os balões. Aqui teríamos algumas cenas de um filme e o resto deveríamos imaginar. Afinal, qual era a função do sal que David colocava no chão? Por que não verificaram as imagens da web cam que vigiava o apartamento? Se não teria importância no filme, por que a colocaram? Assim como o caderno de David. Se ele já vinha sendo perseguido pelos monstros, como estava tão calmo no começo?

Seja sincero: você ficaria numa casa com alguém assim?

Por fim, o nome do filme não faz qualquer sentido. Quando se fala em possuído, minimamente se imagina as cenas de filmes como “O Exorcista”. Mas apesar do filme querer passar a dúvida se David está paranóico ou se existem monstros mesmo, em nenhum momento se pensa que David carrega alguma entidade do mal em seu corpo. E para acabar, nem mesmo o final se salva. Uma pena.

O que eu mudaria?

Primeiramente, traçaria um roteiro com começo, meio e fim. As pessoas gostam de filmes que não contam tudo didaticamente, mas imaginar que o espectador tenha um conhecimento tão profundo como a equipe técnica é demais.

Alguns sustos mais sutis, tais como o primeiro, também seriam bem-vindos. Mostrar apenas de relance ou uma rápida aproximação geralmente surtem mais efeito do que um close numa figura monstruosa.

Prós

 -bons efeitos visuais e sonoros

 -boa atuação

  

Contras

 -roteiro confuso demais

 -situações inverossímeis

 -escuro excessiva

 -muitas vezes cansativo

Nota: 2,0. Tecnicamente o filme é bom. Mas se esqueceu de caprichar no motor, no coração, ou seja, no roteiro. O clima do começo é promissor, mas o filme acaba se perdendo ao deixar muitas perguntas sem respostas.

Trailer