O desenhista, convidado do
FIQ deste ano, cedeu entrevista ao jornal
O Globo, onde falou um pouco sobre sua carreira e criticou o
"oportunismo comercial" dos comics de super-heróis nos Estados Unidos:
"Os quadrinhos deixaram de se preocupar em construir uma mitologia e
passaram a existir apenas para ceder matéria-prima para o cinema e os
desenhos animados. Não se criam mais personagens por razões artísticas.
Hoje, os gibis são criados por interesses monetários na indústria
audiovisual. É por isso que, há 20 anos, eu parei de ler HQs, embora
ainda viva delas."
Eu
lembro que numa San Diego Comic-Con o
Kevin Smith - que trabalha tanto
nos quadrinhos quanto no Cinema - citou a mesma coisa quando disse que o
que começou como uma convenção de HQs agora reservava um espaço muito
limitado a elas e se concentrava mais na divulgação dos grandes lançamentos do
Cinema.
O artista, que desenhou clássicos da
Nona Arte como
Novos Titãs, Vingadores, Mulher-Maravilha, Crise nas Infinitas Terras etc. criticou também o atual contexto das histórias,onde é muito sombrio:
"Atualmente não se vê mais nenhum personagem de HQ sorrir. Tudo é sombrio, sem leveza. Até o Super-Homem perdeu sua inocência."
Pérez, porém, recorda com nostalgia de quando criou Crise nas Infinitas Terras:
" “Crise...” foi uma desculpa que dei à DC para ter a oportunidade de
desenhar todos os super-heróis que cresci lendo de uma só vez, indo de
clássicos de guerra como o Sargento Rock a figuras pós-modernas como os
Homens-Metálicos, passando pelo Batman. O sucesso de vendas fez daquela
experiência algo histórico e me deu passe-livre para criar."
O desenhista também recorda de seu trabalho tão marcante em personagens femininas dentro de um universo profundamente sexista:
"Eu tenho muito mais amizade com mulheres do que com homens. Aprendi que,
para retratá-las com honestidade nos gibis, era necessário ouvir
experiências femininas da vida real para entender como as moças pensam e
agem, sem incorrer em discursos políticos. Meu esforço era não retratar
as mulheres a partir de perspectivas masculinas, que só serviriam para
criar Super-Homens de saia."
Por fim, o desenhista deixou uma valiosa dica sobre a construção da personalidade de um super-herói, chamando atenção para as tentações que cercam o mercado de quadrinhos:
"A maior delas foi a falta de percepção para o fato de que, por baixo da
fantasia de um super-herói, existe um ser humano cheio de problemas,
carente de amizade, com questões tão reais quanto as que qualquer um de
nós enfrenta. A base que Marv Wolfman e eu levamos para os Titãs era:
antes de serem super-heróis, esses personagens precisam ser pessoas de
verdade. Portanto, não vamos idealizá-los como uma super equipe, vamos
idealizá-los como uma família. Essa noção de família se perdeu nas HQs. É preciso reaver esses valores. Se não, tudo é só
oportunismo comercial."
Clique aqui e veja a matéria completa no site de
O Globo.
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