Ontem, 20 de outubro, completaram-se 69 anos do nascimento de um dos maiores atores do Brasil, cujo rosto poucos conhecem, mas cuja voz tornou-se presente na vida de várias gerações, Marcelo Gastaldi.
Marcelo Gastaldi foi um ator, dublador, narrador e cantor. Além de trabalhar em alguns seriados de TV e novelas, na Jovem Guarda chegou a ter um grupo musical chamado Os Iguais, ao lado de Mario Lucio Freitas, que depois também seria seu parceiro em suas incursões no mundo da dublagem.
E foi dublando que Marcelo atingiu um público tão grande que talvez ele próprio não conseguisse imaginar. Dono de uma voz marcante, um grande trabalho de interpretação e um verdadeiro DOM para o humor, emprestou sua voz a clássicos da televisão e do cinema como A Noviça Voadora, A Feiticeira, Abbott e Costello e Jerry Lewis, na época que várias pessoas dublaram o ator.
Hoje dizem que essas versões nem existem mais desde que a Rede Globo convocou o falecido Nelson Batista pra redublar todos os filmes e virar a voz oficial do Jerry Lewis. Algo semelhante ocorreu anos depois quando Marcio Seixas redublou todos os filmes do 007 feitos
até aquele momento para manter uma sensação de unidade… que por sinal
foi completamente esquecida nos filmes seguintes do espião.
O auge do trabalho de MaGa (como era conhecido Marcelo Gastaldi) como dublador e diretor de dublagem foi quando Silvio Santos queria criar um estúdio específico para dublar todos as séries, filmes e animações apresentadas pela TVS, antigo nome do SBT. Nasceram assim o Estúdio Arte e Elenco de Felipe Di Nardo, e a Maga Produções Artísticas, que na verdade era uma COOPERATIVA DE DUBLADORES e que funcionou dentro dos antigos estúdios da TVS na Vila Guilherme, em São Paulo.
A Maga foi responsável por alguns dos melhores trabalhos de tradução,
adaptação e dublagem feitos no Brasil e hoje considerados verdadeiras
raridades, já que uma boa parte desses filmes, desenhos e séries
acabaram sendo redublados em outros estúdios, após o fim da Maga.
E isso é o que realmente impressiona. Como uma empresa de dublagem que
ficou relativamente tão pouco tempo no mercado conseguiu realizar numerosas versões brasileiras tão marcantes de seriados, filmes e desenhos?
Indiscutivelmente o maior trabalho do estúdio foi a dublagem dos seriados de humor mexicanos Chaves e Chapolin, aonde Gastaldi fazia a voz de todos os personagens vividos pelo humorista Roberto Gomes Bolaños, o Chespirito, protagonista e roteirista dos dois programas.
Segundo o livro Versão Brasileira de Nelson Machado – dublador de todos os personagens de Carlos Villagrán em Chaves e Chapolin – Gastaldi escolheu pessoalmente o elenco que dublaria os seriados e alguns nomes (a idéia de chamar Don Ramón de Seu Madruga foi dele).
Apesar de quase todo o material dos seriados ter sido traduzido e dirigido pelo próprio Nelson e um pouco também por Osmiro Campos – a segunda e mais famosa voz de todos os personagens de Rubén Aguirre – Gastaldi se dirigia todas as vezes que dublava o menino pobre, o super-herói mexicano e demais personagens, acrescentando muitos improvisos (os famosos cacos) a interpretação, como por exemplo no episódio em que Chaves compra churros dele mesmo imitando o Seu Madruga.
Um detalhe interessante também é que quase todas as canções foram
adaptadas para o português pelos dubladores e a trilha instrumental que
nós ouvimos no SBT foi toda ela recriada por Mario Lucio Freitas para a versão Maga.
Estimulados pelo sucesso das séries mexicanas, Maga e Carlos Seidl – a voz dos personagens de Ramón Valdés – criaram o piloto de um programa humorístico nos mesmo moldes da atração de Chespirito, Feroz e Mau-Mau, para apresentar a Silvio Santos, mas dizem que o dono do baú nunca chegou a ver esse piloto.
Abaixo um video onde Marcelo fala das suas idéias sobre o humorístico:
Após a morte prematura de Marcelo Gastaldi em 1995, sua família começou a passar por necessidades, enquanto sua voz continuou aparecendo constantemente na programação do SBT, o que os motivou a processar a emissora por danos morais. Porém, a juíza negou a indenização.
Nesse video abaixo um outro Mestre da Dublagem, o já citado Marcio Seixas, explica durante uma entrevista um pouco porque Chaves é uma das melhores dublagens de todas.
OUTRAS SÉRIES DA MAGA
Além de Chaves e Chapolin, a Maga também foi responsável por outras
séries de TV que marcaram época nas telinhas brasileiras, especialmente
pra quem era criança:
A série teve a música de abertura composta por Mario Lucio Freitas e interpretada por ele com a Sarah Regina. A personagem principal vivida pela então atriz mirim Soleil Moon Frye (que cresceu e ficou gatíssima) foi dublada por Denise Simonetto.
Porém, o SBT nunca exibiu todas as temporadas. Quando a Bandeirantes reprisou o seriado recentemente, ele foi todo redublado com outras vozes e as músicas produzidas pelo Mario Lucio foram refeitas.
Super-Herói Americano
A história de um pacato professor escolhido por forças extrarrestres para ser um super-herói na Terra com um uniforme que lhe confere grandes poderes,
mas que já começa todo errado, perdendo o manual de instruções do uso
dos mesmos, fazia grande sucesso nas noites de domingo no SBT.
Eu lembro de querer ficar acordado até tarde pra assistir as cômicas aventuras do atrapalhado Ralph Hinkley, o papel mais marcante de William Katt, e uma das melhores dublagens de Marcelo Gastaldi.
Essa foi a série que o Carlos Villagrán fez na década de 70 quando saiu
do Chaves e foi pra Venezuela. Foi dublada pelo Nelson Machado na Maga
pra ser exibida na Bandeirantes. Não confundir com o Ah! Que Quico!, série que o Carlos fez pra Televisa do México nos anos 80 e que também já foi dublada pelo Nelson.
Esse programa da Venezuela nunca manteve um padrão, ora a história se passava num
apartamento imitando uma sitcom americana com o Kiko no meio, ora numa
vila ou numa escolinha imitando descaradamente o Chaves. O Villagrán
também fazia outros quadros como um que o Kiko é adulto e empregado num
hotel e outro onde ele era O Menino do Jornal, um garoto órfão e sonhador, que morava numa vizinhança pobre… Cof…Cof…
Tá certo que não se trata de uma série, mas Chispita foi a primeira novela infantil mexicana que se tornou fenômeno de audiência no Brasil em 1984 (bem antes de Carrossel estourar por aqui) a ponto da protagonista Lucero ter sido ovacionada pelo público ao desembarcar num aeroporto brasileiro. A personagem foi dublada pela Sandra Marah Azevedo, primeira dubladora de todos os personagens da María Antonieta de Las Nieves em Chaves e Chapolin. Marcelo Gastaldi dublou o anjo que protegia Chispita e Mario Lucio adaptou o tema de abertura.
Nos anos 90 o SBT mandou a novela ser toda redublada num estúdio do Rio de Janeiro pra reexibi-la a tarde, tornando a dublagem original quase esquecida,
exceto por esse trecho abaixo que surgiu durante as comemorações do
aniversário do SBT no programa da Sônia Abrão. Inclusive dizem que ela
espertamente passou um monte de trechos de episódios perdidos do Chaves que estavam nos arquivos porque sabia que os fãs iam ficar em polvorosa.
Spectreman
Um dos melhores trabalhos da Maga foi a versão brasileira do famoso “tokusatsu ecológico” do herói gigantesco que sob as ordens dos Dominantes do Espaço, enfrentava os monstros criados a partir da poluição gerada pelo homem pelo implacável cientista Dr. Gori (brilhantemente dublado por Carlos Seidl).
O protagonista, o andróide Kenji/Spectreman, interpretado por Tetsuo Narikawa, foi dublado em português por Luis Nunes.
Mais videos do Marcelo Gastaldi você encontra no canal do Mario Lucio Freitas no youtube. AMANHÃ… Na segunda parte do post: Charlie Brown e Os Desenhos Animados dublados pela Maga.
Pra encerrar a primeira parte fiquem com Marcelo Gastaldi emprestando todo o seu talento dos tempos de cantor a duas cenas marcantes de Chapolin e Chaves:
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