sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Cine Climax: Halloween - A Noite do Terror

por
Corto de Malta

Depois de Michael Myers, as noites nunca mais estiveram seguras.

 Em 31 de outubro de 1963 um menino de seis anos usando uma fantasia de dia das bruxas, Michael Myers, observava escondido sua irmã mais velha Judith Myers namorando em casa. Quando o namorado foi embora, Michael pegou uma faca afiada na cozinha e apunhalou Judith até a morte para horror de seus pais recém-chegados.

Confinado num sanatório por mais de uma década, Michael é tratado pelo Dr. Samuel Loomis (Donald Pleasence) que enxerga nele o que ninguém mais tem coragem de ver: a pura essência do mal. Após 15 anos num estado de aparente catatonia, Michael foge e ruma de volta para sua cidade Natal, Handdonfield, deixando um rastro de sangue pelo caminho.

Com Loomis em seu encalço, Michael passa a vigiar os jovens de Haddonfield, especialmente Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), e na noite de Halloween ele veste sua máscara e está pronto para atacar de novo dando vazão a sua fúria psicopata.



 Veja o filme Abaixo Completo na Versão Dublada:



Curiosidades:


Os produtores de Halloween – A Noite do Terror ofereceram a John Carpenter o projeto de um filme sobre um psicopata que perseguia babás. Carpenter escreveu o roteiro com sua então namorada Debra Hill e o diretor ganhou a confiança deles quando narrou o roteiro verbalmente, quadro a quadro como uma história de suspense.

Uma curiosidade especialmente bizarra é que o desenhista de produção Tommy Lee Wallace criou a máscara de Michael Myers a partir de uma máscara do Capitão Kirk comprada por $1,98. O próprio Carpenter se encarregou de compor a marcante trilha sonora. Nick Castle interpretou Michael adulto grande parte do filme sendo substituído no final por Tony Moran e pelo próprio Tommy Lee Wallace.


O primeiro filme Halloween – que depois deu origem a uma longa cinessérie – foi uma produção independente de baixo orçamento, mas fez bastante sucesso de público e crítica sendo considerado um dos melhores filmes de 1978. John Carpenter deu um grande ênfase no suspense da trama, deixando o Gore mais de lado, e elaborando cenas onde várias vezes Michael aparece em algum canto no quadro de uma forma sutil, de modo que se você não prestar atenção nem nota que ele está lá até que se mova.

Algumas pessoas compararam Halloween com Psicose de Alfred Hitchcock. Impossível não lembrar que a atriz Jamie Lee Curtis é filha de Janet Leigh, a Marion Crane de Psicose, e ambas passaram pra História do Cinema como “Rainhas do Grito” em filmes de horror. Aliás, Carpenter homenageou o Mestre do Suspense com os nomes de dois personagens do seu filme: o Dr. Samuel Loomis é uma homenagem a Sam Loomis, o namorado de Marion Crane em Psicose e Tommy Doyle é uma referência ao Detetive Thomas J. Doyle de Janela Indiscreta.

No Brasil Halloween também fez sucesso nos cinemas e aterrorizou muito a garotada que assistia a Sessão das Dez no SBT, onde o Silvio Santos só passava filmes muito tensos.



O Gênero Slasher Antes e Depois de Halloween

Halloween é considerado por grande parte da crítica como o grande disseminador do Slasher, subgênero do Terror que bebeu muito da fonte do Giallo italiano e cujo pioneiro é geralmente considerado a produção canadense Natal Negro. A produção de John Carpenter, porém, é o filme que desencadeou uma onda de sequências por ter sido o primeiro grande sucesso de público e porque até hoje é um dos únicos Slashers que foi bem recebido também pela crítica desde a época do seu lançamento.



O filme teve várias inspirações de obras anteriores, como a câmera subjetiva pra mostrar o ponto de vista voyeur do assassino e o passado traumático do mesmo usados pelo Michael Powell em A Tortura do Medo (Peeping Tom) em 1960; a música climática e assustadora e a “punição a sexualidade” vistos em Psicose (Psyco) do Alfred Hitchcock também de 1960; a violência gráfica do japonês Inferno (Jigoku), dirigido por Nobuo Nakagawa no mesmo ano e considerado o primeiro Gore da História; um crime misterioso do passado que dá impulso a novos assassinatos como visto em Dementia 13 de 1963 do Francis Ford Coppola; os adolescentes com hormônios em ebulição como vítimas de um psicopata como mostrado por Mario Bava em Banho de Sangue (Reazione a Catena) de 1971 – que, apesar de ser um Giallo, alguns críticos consideram o primeiro Slasher; um segredo do passado que volta a atormentar um grupo de jovens numa data comemorativa como utilizado por Bob Clark em Natal Negro (Black Christmas) em 1974;


 Algumas pessoas também costumam citar O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chain Saw Massacre), realizado pelo Tobe Hooper também em 1974, como influência por causa da máscara do personagem Leatherface. Pode ser até que essa tenha sido uma inspiração, mas a questão é que apesar de alguns críticos considerarem ele um Slasher, a maioria geralmente o coloca na categoria de Splatter, outra variante do terror mais extrema que o Slasher, criada e nomeada pelo cineasta George Romero, diretor de A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead) de 1968. E já havia assassinos mascarados em outros filmes antes pelo menos desde o japonês Onibaba dirigido por Kantero Shindô em 1964, além de alguns Giallos como Quatro Moscas no Veludo Cinza (Quattro Mosche di Velluto Grigio), que o Dario Argento fez em 1971, como último longa metragem da sua Trilogia dos Animais.


John Carpenter, no entanto, implementou duas inovações em Halloween. Em primeiro lugar ele rompeu com o Whodunit (o famoso “Quem Matou?”), estabelecendo uma crucial diferença com o Giallo. Nas produções italianas esse recurso é fundamental no gênero, embora curiosamente sempre tenha sido uma idéia que Hitchcock não gostava e o diretor inglês foi o grande mentor desse povo todo. Os Slasher seguintes passaram a variar o uso do Whodunit, uns mantinham a identidade do matador em segredo e outros já escancaravam tornando a figura do assassino mais famosa. Um exemplo é a cinessérie Sexta-Feira 13 (Friday the 13th). O primeiro filme diridigo pelo Sean Cunningham em 1980 é um típico Whodunit, onde somente no fim se revela que a assassina é Pamela Voorhees, mas nos demais o público sempre sabe que Jason Voorhees é o assassino, exceto na Parte V, em que Jason não aparece e eles usam de novo o recurso do Whodunit.


Em Halloween – a Noite do Terror o público sabe desde o fim da sequência de abertura que quem mata é Michael Myers. E a partir disso o filme se dedica, através da figura do Dr. Loomis, a tentar elucidar quem ou o quê é Michael Myers. Daí vem a segunda grande sacada de Carpenter, como revelado numa entrevista por sua parceira Debra Hill:
 

“… A idéia era que você não podia matar o mal, e foi assim que chegamos na história. Voltamos à velha tradição de Samhain (Festival que comemorava o Ano-Novo Celta), de que o Halloween foi a noite em que todas as almas estão soltas causando estragos no mundo, e depois veio a história sobre o garoto mais malvado que já viveu. E quando John veio com esta fábula de uma cidade com um segredo obscuro de alguém que viveu lá, e que agora o mal está de volta, isso é o que trabalhamos em Halloween. “


Essa idéia definiu o gênero a partir de então, foi levada ao extremo por Wes Craven com o Freddy Krueger no primeiro A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street) em 1984, e se tornou até objeto de paródia depois, inclusive pelo próprio Craven na cinessérie Pânico (Scream) nos anos 90. John Carpenter trouxe pro jogo, ainda que de forma bastante sugestiva, a noção de que o assassino psicopata do Slasher é uma espécie de super ser, que funciona como um tipo de avatar do male o mal nunca morre.


 
Tanto que uma dos momentos mais lembrados do longa metragem é a descrição do Dr. Loomis sobre Michael:
“Eu o conheci há quinze anos. Disseram-me que não havia mais nada. Nem razão, nem consciência, nem entendimento, nem mesmo a mais rudimentar noção de vida e morte, bem e mal, certo e errado. Eu conheci um menino de seis anos, com um rosto pálido e sem emoção, e os olhos mais negros… os olhos do demônio. Passei oito anos tentando chegar a ele, e então mais sete tentando mantê-lo preso, porque percebi que o que vivia por trás daqueles olhos era pura e simplesmente… o mal.

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