sábado, 14 de junho de 2014

Baú do Tesouro: A Saga da Rainha Regina

por
Corto de Malta

Alguma histórias ficam guardadas com a gente para sempre.

Tudo começa quando Donald e Huguinho, Zezinho e Luisinho estão pescando na Baía de Patópolis. Observando-os do fundo do mar está Regina, a Rainha do Planeta Comprimidus, que se apaixona à primeira vista pelo Donald.

Assim começa uma das sagas mais fantásticas do personagem em todas as mídias. Regina (Reginella para os italianos) vive num reino submarino na Baía de Patópolis depois que ela e seu povo ficaram presos na Terra, enquanto sonham um dia retornar para Comprimidus.



Uma particularidade é que esses extraterrestres sentem o tempo de forma muito diferente dos terráqueos. Eles morreriam de velhice rapidamente se expostos a atmosfera da Terra. Em compensação, para um terráqueo comum passar muitos dias no ambiente de Comprimidus seria como o efeito de minutos.

Isto impede Regina de sair para a superfície e é por isso que ela decide mandar hipnotizar Donald e trazê-lo ao seu reino para se casar com ela. O plano acaba falhando por Donald ter medo publicamente de enfrentar um pretendente da Rainha e ela, mesmo amando-o, decide devolvê-lo aos sobrinhos, que julgavam que o tio tinha se afogado. Regina apenas deixa de lembrança para o amado seu medalhão.

Ao fim, porém, quando está se despedindo do lugar Donald subitamente percebe o que ocorreu e decide atirar o medalhão que Regina lhe dera na Baía de Patópolis, prometendo guardar o segredo. Rodolfo Cimino e Giorgio Cavazzano publicaram essa história, Aventura Submarina, originalmente em agosto de 1972 e, possivelmente pela seriedade e impacto emocional que Regina deixou em Donald (mesmo ele estando hipnotizado) motivou a dupla ao longo dos anos a retomar a história dos dois.


Em A Volta da Rainha Regina, onde nota-se uma mudança profunda no traço de Cavazzano, os exilados de Comprimidus descobrem uma forma de retornar ao seu planeta num imenso foguete. Mas para isso teriam que utilizar uma tecnologia que só existe na superfície. Assim, a monarca recebe de seus súditos força vital - correspondente a vários anos da vida deles - para que possa sair normalmente sem envelhecer.

Acontece que no caminho ela e Donald tem um reencontro emocionante - a Rainha achou que ele morrera ao localizar seu medalhão nos tentáculos de um polvo nas águas da Baía - e vivem um clima de romance, enquanto o tempo corre para o povo submerso, pois a redoma que separava os refugiados extraterrestres do nosso mundo estava perigosamente a ponto de se romper, o que seria fatal para eles.

Assim, Regina decide sacrificar mais uma vez seu amor por Donald, retornar e ir embora da Terra com eles. Essa HQ saiu em setembro de 1974.



Porém, em dezembro de 1987, a terceira parte, O Casamento da Rainha Regina, mostra os habitantes retornando a Comprimidus e descobrindo que o planeta e seus demais habitantes foram escravizados por um tirano do espaço, que trancafia a Rainha para forçá-la a se casar com ele.

Como todos os extraterrestres são pacíficos, a última esperança acaba sendo enviar uma missão para a Terra e trazer o Donald para lá. E não é que - diferente da primeira história - Donald bota pra quebrar e salvar a Rainha lutando contra o tirano? Infelizmente ele é considerado por isso uma má influência para as crianças em Comprimidus por sua violência e acaba tendo que retornar a Terra.

Na quarta parte, A Ameaça Terrestre, de janeiro de 1992, um rico empresário terrestre quer ganhar dinheiro explorando viagens espaciais. Quando ele descobre a existência de Comprimidus e o fato de que estando lá os dias aparecem minutos para um terráqueo, decide transformar o lugar numa grande colônia de férias.



Mesmo contra a vontade da Rainha o plano acaba dando certo e trazendo muita dor de cabeça ao Planeta. Donald decide ir ajudar e tem os custos da viagem pagos por - pasmem - o Tio Patinhas, que se comove como sentimento sincero do sobrinho.

No entanto, logo percebe-se que a convivência com os humanos estava deixando doentes os nativos de Comprimidus. Regina outra vez decide sacrificar seu amor por Donald e usa uma mágica poderosíssima para expulsar os turistas e o empresário. No entanto, isso aparentemente deixa seu corpo deformado. Num momento dramático ela decide se despedir de Donald sem deixar que ele a visse, dando-lhe apenas um bordado com o desenho das estrelas do céu.

Enquanto Donald é forçado se separar mais uma vez de sua amada, o Planeta Comprimidus entra numa órbita para se afastar ao máximo da Terra. Tio Patinhas consola o sobrinho contando que o bordado era uma mensagem: quando as estrelas brilharem como no bordado eles se reencontrariam.


É o que acontece em Donald e Rainha Regina Contra os Terríveis Vampirões, história originalmente publicada em dezembro de 1994 e que permaneceu inédita no Brasil até sair em Disney Big #23 em outubro de 2013. Todas as demais haviam sido publicadas em Almanaque Disney nos anos 90. Não vou dar spoiler, fique só com o gostinho do resumo:  

"Na trama recheada de emoção, Donald tem que salvar o Planeta da monarca contra uma invasão de vampiros. Prepare-se para um final inesperado! (E deixe os lenços de papel ao alcance...)"

Apesar de ter problemas e contradições entre um capítulo e outro - como é que o Reino Submarino deles era tão avançado tecnologicamente e o Planeta Comprimidus, de onde eles vinham, parecia ser uma grande roça? - A Saga da Rainha Regina é uma das mais marcantes HQs Disney já produzidas.


Ainda que qualquer fã de Carl Barks/Don Rosa torça o nariz para o flashback do Tio Patinhas com a Brigite - todo mundo sabe que o amor dele na juventude era a corista Dora Cintilante - a Saga triunfa ao apresentar um lado quase nunca explorado do Pato Donald, mesmo com a Margarida.


Poucas vezes ele foi tão humanizado quanto na retração que Cimino e Cavazzano fizeram dele como um apaixonado melancólico, ansioso que luta contra seus próprios temores e no fim sempre se vê frustrado na sua paixão, que sobretudo é extremamente sincera.


Talvez por isso algumas pessoas se refiram a trama como a história secreta do Pato Donald ou o amor secreto do Pato Donald. Tá certo que o Donald sempre foi humano, mas acho que nunca tão humano quanto aqui, diante de um amor tão impossível quanto verdadeiro.

Na sua simplicidade, A Saga da Rainha Regina consegue encantar todos os fãs da Disney, que se emocionaram com a história de amor do Pato Plebeu e da Rainha ET, que demonstram que o amor não apenas revela facetas escondidas da nossa personalidade. Ele também nos torna um pouco mais humanos.


2 comentários:

Fragata disse...

A história é muito bonita, tô lendo agora xD

Rodrigo disse...

A saga é realmente muito boa (a dos Vampirões um pouco abaixo), mas a última da Rainha Atemporal levou a outro patamar, com um final fantástico.

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