sexta-feira, 11 de abril de 2014

Cine Climax: Eles Vivem

por
Corto de Malta

Raras vezes o estilo trash serviu tão bem como retrato devastador de uma sociedade corrompida. Vamos relembrar esta obra-prima de John Carpenter?

O longa-metragem surgiu depois que o diretor, que esteve no auge com o primeiro Halloween, passou por um período de fracassos de público que o levaram a trabalhar em produções mais baratas e baseadas unicamente em extrema criatividade. Uma dessas obras foi Eles Vivem. 



Na história John Nada (Roddy Piper) é sem teto que chega a São Francisco desempregado e sem um centavo no bolso, porém, sem nunca perder sua fé no sonho americano. Ele arruma um emprego numa construção e, com ajuda do amigo Frank (Keith David), vai pernoitar num abrigo para os sem teto da cidade, que aumentam a cada dia. Os responsáveis pelo local são os membros de uma estranha igreja que fica do outro lado da rua.


Ao contrário de Frank, que não gosta de se meter em encrenca, Nada decide meter o nariz onde não é chamado e esbarra num estranho segredo. Os membros da igreja simulam o culto com uma gravação enquanto realizam transmissões de TV clandestinas alertando sobre um suposto domínio de forças desconhecidas sobre nós, forças que se aproveitam da nossa inércia e apatia para triunfar, fazendo os ricos ficarem mais ricos e os pobres mais pobres. Nada também ouve sobre um carregamento e descobre que eram caixas cheias de... óculos de Sol. 


As coisas se complicam durante a noite quando a polícia invade e prende os membros de igreja, enquanto a tropa de choque ataca o abrigo e as pessoas de lá com grande violência.


Qualquer semelhança com a Desocupação da Favela da Telerj, o Caso Pinheirinho ou tantos outros NÃO é mera coincidência! Após escapar a muito custo, John Nada salva uma das caixas e decide usar os óculos de Sol. É aí que a história começa pra valer!


John descobre que os óculos tem poderes especiais, permitem que ele enxergue em preto-e-branco, veja mensagens subliminares em todos os anúncios publicitários na rua (o cartaz de uma mulher seminua numa praia, por exemplo, escondia a mensagem CASE E REPRODUZA, as notas de dinheiro significavam ESSE É SEU DEUS etc.) e descubra, estarrecido, que algumas pessoas não são o que parecem ser. Pra ser mais exato: os ricos são na realidade alienígenas e sua verdadeira forma lembra mais a de esqueletos putrefatos e fosforescentes.



Lançado em 1988, Eles Vivem é inegavelmente um filme trash. O protagonista, vivido pelo lutador de luta-live profissional Roddy Piper, se transforma em um verdadeiro Rambo de uma hora pra outra e no meio da história ainda ocorre uma cena desnecessária de porradaria entre Nada e seu amigo Frank, ainda que a mesma seja realizada de forma nada menos do que espetacular, quase um momento a parte do resto do filme.


É também um ponto de ruptura na carreira do John Carpenter. Foi sua última brainstorm no cinema até hoje, o último exercício de criatividade de uma mente febril que depois só conseguiu produzir obras mornas ou sem a mesma qualidade de outrora. Mas também é o filme que sedimentou a imagem do diretor como cult. Eles Vivem se tornou um ícone na cultura pop e a história dos óculos que enxergavam os "monstros" e mensagens subliminares por trás da fachada de "perfeição" do mundo real foi referenciada e parodiada inúmeras vezes.


Além disso, o longa-metragem ficou marcado por ser um instrumento mordaz de crítica ao capitalismo, ao consumismo e ao poder de manipulação da mídia. E, o que mais impressiona, ele permanece assustadoramente atual até o dia de hoje.



Um comentário:

Anônimo disse...

Tava demorando para o blog ficar politizado.

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