segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Climatinê: Sem Dor, Sem Ganho por Laís Skywalker


Eu acredito em boa forma.


Com 16 anos, eu já havia assistido a filmografia completa de Hitchcock, Scorsese e Jean-Luc Godard. Hoje, aos 24, certamente sou a pessoa que conheço que mais viu filmes nessa vida. Tenho conhecimento amplo sobre o cinema francês, alemão e coreano. Indico tranquilamente ótimos filmes turcos e noruegueses. Portanto, meu gosto é refinado certo? Na minha prateleira reinam somente filmes de gente como Werner Herzog e Ingmar Bergman, correto?



Bom... Não. Na verdade, eu tenho um gosto bem porco pro cinema. E não estou dizendo do bom e velho cinemão pipoca. Eu sou sim, alucinada por Blockbuster. Mas o que tô dizendo aqui, é em relação a filmes que são desprezados pelos fãs do Kurosawa. Filmes que tu tem que ir com teu irmão assistir, porque a tua namorada, fã do Nicholas Sparks, não consegue. Sim, estou falando do famigerado gênero Ação.

Quando se trata dele, me torno um marmanjo sem nenhum resquício de intelecto. Sabe esses filmes, que os caras ogros curtem? Pois é, eu adoro todos eles. Astros como Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger. Franquias como Duro de Matar e Maquina Mortífera. E coisas mais recentes como Carga Explosiva e Velozes e Furiosos. Deixei muita coisa de fora, mas pra resumir, eu sou uma guriazinha de 1,55 m que têm todos os filmes do Van Damme em VHS.


Entenderam a gravidade da coisa? Quando qualquer merda dessa aponta no cinema, logo estou eu, na estréia, pulando que nem pipoca, pra conferir. O Ultimo Desafio com Schuaza? Estava lá. Alvo Duplo com Sly? Estava lá. Busca Implacavel 2 com Liam? Estava lá. O Legado Bourne? Claro que eu estava lá. Como fã de carterinha de Jason Statham, fui feliz da vida conferir o Parker e quase morri quando ele apareceu na cena pós credito de Velozes e Furiosos 6.

Dito isto, é obvio que quando saiu a noticia de um filme chamado Pain & Gain, estrelado por Mark Whalberg e Dwayne Johnson, meu coração quase saiu pela boca. Muito tempo de espera depois, lá estava eu nesta sexta-feira chuvosa, vestida a rigor (tenho esse problema na cabeça, filme que estou ansiando muito, vou vestida a caráter) com uma pipoca média e uma coca de 700 ml, louca pra ver o que o alucinado do Michael Bay fez com a história real de dois fisiculturistas que entraram para o mundo do crime na Miami da década de 80.


Alguém certa vez disse (pode ser que tenha sido Platão), que devemos preferir algo crível que seja mentira a uma verdade que seja incrível. Isso é o que nomeamos de VEROSSIMILHANÇA em um enredo, e nos faz acreditar que dentro de tal universo um ser como Homem-Aranha ou o John (do Querido John, do Nicholas Sparks) sejam possíveis.

 A história que o megalomaníaco do Michael Bay dirigiu em Sem Dor, Sem Ganho, é assim, tão absurda, com personagens tão imbecis, que é incrível demais para qualquer cara ogro, com o mínimo de senso acreditar. Mas ai o roteiro encontrou um caminho que nem mesmo Platão (pode ser que seja Sócrates) poderia imaginar: o de simplesmente não se levar a sério e fazer piada do ridículo. De verdade, num dado momento do filme, tem até um aviso que diz: SIM, ISSO AINDA É BASEADO EM UMA HISTÓRIA REAL.


Com essa ironia, Sem Dor, Sem Ganho acaba se tornando um filme bem maneiro. É divertido, e embora seja mais comprido do que deveria ser, tem ótimo ritmo e vale o ingresso. Com um humor negro completamente sem noção e um elenco inspirado, o longa-metragem mostra até onde certas pessoas estão dispostas a ir para realizarem os seus sonhos. Pessoas muito bem apresentadas pelo trio de atores Wahlberg, Dwayne e Anthony Mackie. Sem contar o cara seqüestrado, Tony Shalhoub, o eterno Monk, que segura boa parte das cenas absurdas devido ao seu talento.

Em relação a direção de  Bay... A mania de grandeza desse cara, parece ser claramente uma tentativa de compensar alguma coisa pequena em sua vida. Com orçamentos cada vez mais exorbitantes, como a trilogia Transformers (que eu amoooo), e saciando um desejo sádico de destruir o máximo de coisas possíveis em seus filmes (é uma marca registrada do jovem: sem destruição, não tem graça), parecia impossível imaginar o dia em que Bay relaxaria para assumir um projeto menor e mais pessoal.


Longe das explosões e cortes excessivos, o diretor construiu um efeito de câmera interessante, criando assim uma dinâmica de imagens muito funcional para a trama. O filme é longo, então esse entrar e sair nas frestas, se tornou um pouco cansativo pra mim, mas nada que as motivações infantis e babacas dos criminosos não tenha compensado no final.

Os frequentadores das academias poderão se sentir um tanto ofendidos. O roteiro faz questão de ridicularizar e diminuir quem ganha a vida trabalhando com os músculos. Ao contrário do que acontece geralmente, os personagens apresentados são verdadeiras mulas musculosas e que deveriam ter se preocupado só um pouco em exercitar o cérebro.



Não digo que é um grande filme, mas, diante do que se propõe, Sem Dor, Sem Ganho consegue encontrar soluções muito bem realizadas para construir um filme de ação com comédia muito maneiro.

 O melhor filme de Michael Bay, desde A Rocha (1996).

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