domingo, 27 de fevereiro de 2011
Cartas de Um Navegante: Uma Feira Agropecuária Chamada Oscar
Começo aqui a minha coluna no Clímax, e começo falando da premiação mais famosa do Cinema, que acontece hoje.
Acho que todo mundo já discutiu ou se inconformou pelo menos uma vez com alguma premiação do Oscar, pela derrota de um indicado ou mesmo pela não indicação de um favorito. É praticamente obrigação de todo brasileiro ficar indignado por Fernanda Montenegro perder o Oscar de Melhor Atriz em Central do Brasil pra Gwyneth Paltrow em Shakespeare Apaixonado.
Eu, como bom fã tanto de Cinema quanto de HQ, já perdi a minha paciência com a não-indicação de Batman - O Cavaleiro das Trevas a Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro, por puro preconceito enrustido da Sétima com a Nona Arte, de onde o personagem se originou.
E como esquecer das clássicas injustiças do Oscar como Cidadão Kane ou A Felicidade Não Se Compra não ganharem o Oscar de Melhor Filme e Hitchcock e Chaplin nunca vencerem na categoria Diretor (e no caso de Chaplin nem ator), tendo que receber o chamado "Oscar Honorário", que é uma forma da Academia tentar corrigir injustiças na premiações, sendo que a maioria delas é criada exatamente pra tentar corrigir outras injustiças de anos anteriores.
Ou seja, os maiores equívocos da Academia ocorrem quando ela tenta ir além de apenas premiar os melhores, criando situações como Russel Crowe ganhando o Oscar de Melhor Ator por Gladiador e não por Uma Mente Brilhante. Isso fica claro também no fato de terem mudado a famosa frase da entrega da estatueta careca dourada de "O Vencedor é..." para a politicamente correta "E o Oscar vai para..."
Lembro do Sean Penn (que já ganhou duas vezes como Melhor Ator) dizer que a premiação era estranha pois, por exemplo, não haveria como se indicar uma "Melhor Interpretação". Mas que conste que são os próprios atores que votam uns nos outros, assim como os próprios Técnicos de Som, Diretores de Fotografia, Figurinistas, Compositores, etc. votam uns nos outros...
O que ocorre é o seguinte: O Oscar tem uma função maior do que premiar os melhores profissionais de Cinema do Ano. A sua verdadeira função é procurar chamar a atenção do Mundo pro universo cinematográfico. E nesse caso, imagem é tudo. Assim, a Academia não rejeita só personalidades de gênio difícil, mas também artistas que não se enquadram como eles querem naquele momento, como Jim Carrey e Johnny Depp. Embora isso não explique porque raios Christopher Nolan não foi indicado ao Prêmio de Diretor por O Cavaleiro das Trevas ou A Origem.
Eia a verdade: O Oscar é na verdade uma Feira Agropecuária daquelas bem tipicamente norte-americanas, disfarçado de festa de gala.
Uma Feira que acontece todos anos pra chamar a atenção do mundo sobre Hollywood, assim como ocorre com as cidades do interior. Os indicados ao Oscar são os que ganham o direito dos donos do evento municipal (ou melhor, a Academia) de exporem seus produtos nos seus galpões ou estandes durante a Feira.
É uma forma de atrair visitantes de todo o mundo para conhecer os novos produtos, as novas tecnologias, os fazendeiros mais arrojados e participar dos shows musicais de cantores e bandas que viajam quilômetros para a premiação. Ou atraí-los para ver os filmes, seus efeitos especiais e diretores importantes para o mercado e para as grandes produtoras enquanto também ouvem números musicais de profissionais que também querem se promover naquele concorrido ambiente.
Os vencedores das competições da Feira podem ser tanto a mais bela moça das redondezas, quanto os animais mais bem alimentado, os alimentos mais consumíveis, ou até mesmo aquele cara que nunca ganhou nada antes nas outras feiras porque sempre tropeçava perto da linha de chegada na final da corrida do saco. Daí atores e atrizes tentando provar constantemente que são mais que rostinhos bonitos, produtores tentando tornar obras de arte vendáveis ou vendendo produtos como obras de arte, além da Academia desesperadamente procurando remediar injustiças e "injustiças" para não afetar a imagem da premiação.
Isso sem falar nos discursos, pois tanto nas Feiras quanto no Oscar cada membro importante daquele universo tem sempre quase que um obrigação de se inclinar a oratória, seja diplomática ou polêmica, mas sempre acentuando ainda mais o caráter político daquilo tudo.
Mas claro, tal como os rodeios sempre chamam mais atenção, seja para os apaixonados pelos caubóis e suas esporas brilhantes, seja para os que ficam chocados com o tratamento dado aos indomáveis touros, também chama a tenção o "rodeio" onde astros e estrelas se debatem com escândalos e fofocas enquanto o público, como num rodeio de verdade, fica do outro lado da cerca se aglomerando aos gritos de empolgação ou murmúrios de desaprovação.
Essa pode ser a parte mais degradante da Feira, mas inegavelmente já faz parte do espetáculo. Se isso soa meio cruel, vale lembrar que Hitchcock, certo ou errado, já dizia "que atores deviam ser tratados como gado."
No fim, acaba pesando muito para a vitória toda um trabalho de divulgação e propaganda feita pelos executivos. Ora, quem não lembra do clássico livro, desenho e mais recentemente filme A Menina e o Porquinho (Charlotte's Webb), onde o porco Wilbur ganha o primeiro prêmio da Feira de sua cidade graças a sua amigona do peito, a aranha Charlotte, que tece em sua teia grandes elogios (literalmente) ao porquinho, lhe trazendo então grande visibilidade do público presente?
Assim toda essa cultura de consumo extremamente enraizada na sociedade norte-americana pode ser vista impregnando completamente a mais importante premiação da Sétima Arte. Sempre foi assim. Portanto, não fique chateado se o seu porco, ou melhor, se o seu filme preferido não ganhou o primeiro prêmio nesse ano. A importância do Oscar é ser Vitrine e não Pódio.
Mas tomara que a honey-woman da Natalie Portman vença este ano pro filho dela não nascer com cara de Oscar.
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