terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Climatinê: Tron - O Legado Por Corto Maltese
Continuação de Tron - Uma Odisséia Eletrônica de 1982, filme clássico das Sessões da Tarde da vida, Tron - O Legado cumpre muito bem a função de continuação e consegue ser um pouco mais do que isso.
No filme original (que puxava mais pra fantasia que pra ficção científica e não fez sucesso, mas com o tempo se tornou cult) o personagem de Jeff Bridges, Kevin Flynn, era um programador que, ao ser digitalizado para DENTRO do computador descobre programas com a aparência humana de seus amigos e inimigos da vida real, como o herói Tron (Bruce Boxleitner) programa que luta pelos Usuários desenvolvido por seu amigo Alan Bradley (também interpretado por Boxleitner no mundo real) e se envolve em corridas e torneios de gladiadores para derrubar o programa ditador.
Após a queda do tirano MCP e do malvado Sark, criados pelo vilão Edward Dillinger (todos interpretados por David Warner), Kevin Flynn recriou seu programa, CLU, para ajudar Tron a reconstruir a REDE, um mundo virtual perfeito desenvolvido através da mega corporação ENCOM.
Anos após tornar-se presidente da companhia, um Flynn viúvo se dedica a narrar suas aventuras com Tron e CLU para o filho Sam, mas não resiste a dar suas escapadas para dentro daquele mundo virtual... e mágico. Só que um dia Kevin Flynn não volta pra casa... deixando o garoto órfão.
Muitos anos depois o agora jovem rebelde Sam (Garret Hedlund) se dedica a sabotar os planos gananciosos dos executivos da ENCOM, como Edward Dillinger Jr. (Cillian Murphy). Até que uma noite seu padrinho Alan Bradley diz que recebeu um recado de seu pai vindo da REDE. Ao investigar o antigo fliperama de Kevin, Sam Flynn é digitalizado para dentro do computador e, a exemplo do que aconteceu antes ao seu pai, acaba envolvido em torneios de gladiadores e corridas.
Após ser resgatado pela misteriosa Quorra (Olivia Wilde), não demora para Sam reencontrar seu agora velho pai e descobrir o que aconteceu: Kevin e Tron descobriram os ISOs, uma forma de vida surgida espontaneamente dentro da máquina. Kevin achava que isso revolucionaria o mundo, mas CLU se revoltou, pois os ISOs eram como os humanos, imperfeitos, e portanto inaceitáveis no mundo perfeito que Kevin lhe programara para criar.
A criatura então assumiu o poder tentando matar seu criador e exterminando os ISOs. Salvo por Tron, que com isso foi subjugado e reprogramado por CLU, Kevin passou a viver isolado ao lado de Quorra pois seu disco de memória seria a chave para o agora ditador CLU invadir o nosso mundo.
"Quando fui gravar o primeiro Tron nós trabalhávamos num enorme galpão vazio. Quando eu voltei lá pra gravar a continuação, mais de vinte anos depois... ainda era um enorme galpão vazio."
Apesar dessa declaração do ator Jeff Bridges muita coisa mudou pra nós, o público, nesse universo de Tron. A começar pelo visual: Os usuários e programas não usam mais capacetes e tudo que era branco no filme antigo foi substituído por um preto básico. Obviamente as cenas de ação também são mais elaboradas, assim como os efeitos especiais.
Digamos que tudo que Tron - Uma Odisséia Eletrônica tinha de pioneiro em computação gráfica, Tron - O Legado tem de convincente.
Mas o mais interessante é que houve uma evolução considerável na história, que não fugia muito da fórmula de aventura maniqueísta inocente no original. A continuação é repleta de simbolismos que tornam o roteiro mais rico, como os programas enxergarem os Flynn pai e filho como AQUELES Pai e Filho, ou seja praticamente como milagres vindos do Céu, quase uma religião que uns respeitam e outros desdenham, como demonstra a cena na boate de Castor (Michael Sheen).
Outro ponto muito interessante é o fato do vilão ser CLU, um personagem vazio no primeiro filme, mito de uma perfeição impossível, que neste se mostra preenchido dos mais vis sentimentos: raiva, inveja, intolerância, ciúme, ganância, que sem que ele próprio perceba o aproxima tanto da imperfeição humana que o programa despreza.
Isso porque CLU é uma Sombra perfeita do ponto de vista Junguiano, apenas um reflexo dos desejos mais inflamados de Kevin Flynn e sua visão de querer "consertar" o mundo. Por isso ele sente vergonha do que CLU se tornou e é incapaz de confrontá-lo até a chegada de Sam, que descobre que a mensagem enviada a Alan fora, afinal, mandada pelo próprio CLU.
Isso também é retratado pelo efeito especial que mantém CLU como um Jeff Bridges sempre jovem enquanto seu criador envelheceu normalmente. É como se no mundo de Tron, onde os ISOs são a próxima escala evolucionária por serem imperfeitos, CLU fosse o Retrato de Dorian Gray de Kevin. A cena final dos dois chega a ser poética.
Aliás, os ISOs são outra das grandes sacadas do longa metragem. Existem três coisas que tornam o conceito de Tron mais aceitável pelo grande público hoje em dia do que em 1982: um é a evidente popularização da informática e da internet com o sucesso de outros filmes do gênero, como Matrix, outro é a explosão atual do 3D desenvolvido por James Cameron para Avatar e o terceiro é a descoberta científica da bactéria de Arsênio.
De fato o 3D do filme pra mim foi fraco e não acrescentou nada como recurso narrativo (pode ser que seja porque o único longa em 3D que eu vi antes foi Toy Story 3 numa Sala IMAX, o que me faz pensar no quanto o IMAX tem sido negligenciado com a recente moda do 3D e o quanto as tecnologias podem se complementar).
Mas é inegável que o 3D torna uma proposta com o Tron atraente, da mesma forma que a bactéria de Arsênio torna toda a trama dos ISOs surpreendemente atual e relevante. Pra quem não sabe no fim do ano passado foi encontrada num lago da Califórnia uma bactéria que é composta, entre outros elementos, por Arsênio, tóxico para os humanos e inimaginável até então como componente de uma forma de vida, já que a vida só poderia ser formada a base de Fósforo, Carbono, Hidrogênio, Enxofre, Nitrogênio e Oxigênio.
Guardadas as devidas proporções é isso que os ISOs representam no universo de Tron: vida onde não devia haver vida. E toda a trama de Tron - O Legado gira em torno do desafio de Kevin e Sam para protegê-la de um mundo hostil a sua existência. Esse é O Legado do título.
Apesar de ainda ser uma aventura ingênua (Por que raios Flynn ficava com seu disco de memória nas costas o tempo todo praticamente esperando ser roubado? E como um exército de programas de computador poderiam existir no mundo real se eles são essencialmente diferente dos Usuários e dos ISOs? ), o filme conta com ótimos atores, efeitos de ponta e um roteiro bem amarrado com uma resolução que deve nos levar a uma terceira parte da Saga, aonde dá pra imaginar que o personagem de Cillian Murphy representará a ameaça e também onde eu espero que o personagem título ganhe mais ênfase, pois a participação de Tron, incluindo sua redenção sem graça no final, foi um ponto fraco da trama.
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5 comentários:
De fato o 3D do filme pra mim foi fraco e não acrescentou nada como recurso narrativo [2]
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Cillian Murphy é quem no filme???
O filho do vilão primeiro Tron. Ele só aparece no começo na cena da reunião. É o cara jovem de óculos.
Nossa que legal, aquele cara que aprecia uma mistura de intelectual, geek e hacker...
nem reconheci o Espantalho!!!
hauahuaauahau
"Por que raios Flynn ficava com seu disco de memória nas costas o tempo todo praticamente esperando ser roubado?"
Pq é mais seguro ficar com ele,isolado do mundo, do que escondido em um lugar onde podem achar.
"E como um exército de programas de computador poderiam existir no mundo real se eles são essencialmente diferente dos Usuários e dos ISOs?"
Kevin é deus dentro do Tron, penso eu que o disco dele esconde mais do que se imagina.
bem, já falei sobre tron aqui,Não é perfeito, mas muito bem funcional.
Era questão não era o Disco estar com ele, a questão era estar nas costas igual a todos os outros.
Tanto que depois que eles o recuperam, fazem aquela jogada de trocar os discos. Aí sim fez mais sentido, mas podiam ter pensado em algo assim antes de partirem pra um lugar hostil.
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