quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Climatinê: O Riso dos Outros por Corto

por
Corto de Malta

Ontem eu postei aqui o documentário O Riso dos Outros. Hoje pretendo fazer uma crítica sobre ele, seus pontos positivos e negativos.

Em primeiro lugar é preciso frisar que o documentário era necessário e levanta uma discussão relevante. Os caminhos escolhidos pelo cineasta Pedro Arantes pra tratar do tema é que talvez não sejam os mais adequados.

Fica claro desde o começo que ele quis demonstrar que tomou o partido dos críticos dos comediantes brasileiros de stand-up e suas piadas que geralmente envolvem grupos discriminados pela sociedade. É aí o equívoco do diretor ao mascarar a sua parcialidade, o que gera uma certa desonestidade intelectual.



Isso se agrava pelo seguinte fato. Se os citados comediantes são colocados o tempo inteiro como representantes de um pensamento de extrema direita, os ativistas entrevistados não deixam de ser representantes de um pensamento de extrema esquerda. É claro que estou generalizando intencionalmente, já que no próprio filme surgem comediantes stand-up e ativistas que não compartilham dessa visão radical de ambos os lados, mas essas vozes acabam reduzidas em meio às opiniões mais fortes.

Isso faz com que os dois lados produzam falácias. Mas o tratamento dado a ambos é diferente. Por um lado uma das comediantes de stand-up diz que a sua classe não é formadora de opinião - argumento que qualquer um pode notar que é absurdo vendo as imagens do show na Praça da Sé no final - e por outro lado vários ativistas  falam que o famigerado Politicamente Correto é uma invenção da Direita e o filme dá grande destaque a essa explicação.

Oras, se o Politicamente Correto não existe como explicar essa manchete absurda publicada nesse mesmo blog dias atrás: Cartoon Censura Tom & Jerry Por Ser Politicamente Incorreto?



Não enxergar que o Politicamente Correto é um Mal pra Sociedade Moderna tanto quanto as piadas preconceituosas também são, é um sintoma de uma visão extremista e míope. Infelizmente, ao tentar combater um Mal neste aspecto O Riso dos Outros enaltece outro.

Sua vontade de tomar partido sem assumir que tomou partido fica clara quando vão para a Argentina entrevistar uma comediante stand-up local, que tem um tipo de humor socialmente mais consciente que seus colegas brasileiros. A questão é que neste ponto se omite a informação de que para muitos ativistas entrevistados anteriormente esse tipo de humor TAMBÉM seria considerado errado.

Apesar de todos esses aspectos negativos O Riso dos Outros tem valiosos depoimentos, especialmente de cartunistas como Laerte, André Dahmer e Arnaldo Branco. Eles parecem os únicos ali - incluindo os realizadores do filme - que percebem que a linha entre Humor e Política é mais tênue do que os demais imaginam.



Ao fim, o melhor depoimento é mesmo do Rafinha Bastos. Quando ele mesmo assume com sinceridade que embora respeitando e se informando sobre o assunto, não acredita nesse humor engajado socialmente, ele torna transparente a diferença de qualificação que existe entre si mesmo e  o Laerte por exemplo.

E aí fica a questão: por que os senhores da grande mídia reservam tanto espaço determinados profissionais que são claramente menos preparados do que outros que também estão por aí? Não seria essa a verdadeira fonte do problema?

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